Tia Lurdinha e suas enganações

Esse fato se deu há muitos anos. Na família de mamãe todas as mulheres têm por primeiro nome Maria porque vovó é muito devota de Maria, a Mãe de Jesus e resolveu dessa forma homenageá-la através das sete filhas que Deus lhe deu. Como se não isso não bastasse, elas receberam um segundo nome também venerando a algum titulo de Nossa Senhora. Elas são assim chamadas: Maria Aparecida, Maria de Nazaré, Maria de Lourdes, das Dores, de Fátima, da Conceição e da Piedade. Filho homem a vó só teve um que sobreviveu, mas não sei por que ela não lhe colocou o nome de José Maria ou João Maria. Não é José nem João, não tem Maria no seu nome. Mas ela deu-lhe também um nome muito sagrado, porque é de acordo com ela é o nome que Deus deu ao primeiro ser humano, seu o nome é Adão. Adão sem Maria, sem José, sem João. Somente Adão, Adão Moreira.

Sou filha de Cidinha, Maria Aparecida, a filha mais velha de vovó e durante algum tempo, ainda na minha infância nós tivemos como vizinha lá na roça tia Lurdinha que é a Maria de Lourdes, uma mulher muito pequena, a menor das minhas tias, tia Lurdinha é muito ativa, quando jovem ainda era muito mais. Trabalhava em casa e na roça. O que tem de pequena tem de esperta, especialmente nas transações comerciais, sabe vender, trocar, comprar, ela é realmente muito esperta.

Tia Lurdinha certa vez recebeu de presente uma blusa algum , ganhou de alguma parente ou amiga da cidade, era uma blusa bem chic, pouco usada, mas como se dizia na roça, o defunto era muito maior. A peça não serviu. Um tanto triste, mas sem se deixar abater, a tia negociante tratou de fazer bom negócio. Morava também no sitio uma senhora com o nome de Paulina, era uma mulher de grande estatura e corpo robusto, uma pessoa integra e de pouca conversa, a pobre senhora tinha umas poucas galinhas poedeiras e uns franguinhos que estava criando para fazer carne do almoço de Natal quando tia Lurdinha fez-lhe a proposta de troca da blusa que havia ganhado, combinaram um frango em troca da blusa, nada mais, nada menos. A blusa ficou na casa de dona Paulina e o franguinho seguiu com a tia Lurdinha para a casa dela.

No dia seguinte bem cedo como era de costume, Paulina foi dar milho a sua criação no terreiro de casa e grande foi a sua surpresa ao dar de cara com o franguinho que ela havia negociado na véspera, mais surpresa ainda ela ficou quando deu por falta de sua melhor galinha poedeira, procurou-a por toda parte sem, no entanto encontra-la. A galinha virara sopa na casa da vizinha.

Na calada da noite devolvera-se um frango em formação e levara-se uma galinha gorda. No despontar da manhã rompia-se para sempre uma amizade entre duas mulheres.

Autora: Vanda Maria Monteiro.