AS CILADAS LINGUÍSTICAS
Estudar outros idiomas é uma maravilhosa aventura transbordante de descobertas, estas muitas vezes instigantes, engraçadas e surreais. Descortina-se para o aluno a realidade de um universo excitante que o leva a horizontes nunca dantes navegados.
Roberto era um desses empolgados estudantes, cujo idioma escolhido era o inglês. De tão interessado em aprender a nova língua, ele estudava quase diuturnamente, pesquisava em dicionários, livros didáticos e cartazes de filmes. Até mesmo começou a pensar em inglês, tamanha era o desejo de se tornar fluente.
O pai de Roberto, comerciante de muitas posses, percebendo o interesse incomum do filho e ciente de que saber falar bem inglês proporcionaria a ele um futuro promissor, presenteou-o com uma viagem ao país do tio Sam. Foi o ápice da glória para o jovem, a alegria máxima, a realização de um sonho.
Vistos de entrada conseguidos, passagens de ida e volta compradas, Roberto viajou a Nova York. Absolutamente deslumbrado.
À chegada ao Aeroporto John F. Kennedy, abriu-se num amplo e saboroso sorriso. Após desembarcar, correu a pegar a bagagem e dirigir-se à imigração com o intuito de exibir seu conhecimento do idioma norte-americano aos nativos. Felicíssimo. Saiu-se bem. Foi para o hotel e, em seguida, rumou para a embaixada brasileira, sem motivo específico, talvez quisesse exibir-se, sabe-se lá!
À entrada da representação diplomática, em determinado lugar do enorme saguão, avistou a frase PISE NO PEDAL. Tentou traduzir na mente, mas encafifou, algo travou em seu cabedal linguístico, não logrou o intento. "O que será paise nou pidou?", pensou, desolado. "Alguma gíria, expressão idiomática talvez?" Não, ele desconhecia o significado da frase e não estava gostando disso. Matutou, revisou os pensamentos, tentou a tradução de cada palavra a fim de compreender o contexto, mas desistiu, reconheceu sua triste ignorância. Mas ele queria saber, precisava agregar mais aquela frase inglesa em seu acervo. Então, lépido e decidido, cumprimentou uma recepcionista, pediu licença e perguntou se ela poderia traduzir para o português a tal estranha "PAISE NOU PIDOU". A jovem solicitou que repetisse, não entendeu e indagou onde Roberto vira essa frase. Todo confiante e intrépido, ele apontou para o local onde a vira. A moça sorriu meio amarela e, um tanto sem graça, respondeu: "não é paise nou pidou" é "Pise no pedal" , está escrito em português".