Sem usar o piruzinho...?
Deslocada do nordeste paulista para o extremo oeste do Estado, onde serviria como Diretora concursada de uma escola técnica modelo, a dinâmica e competente Érica mudou-se de armas e bagagens para o novo desafio. Levou consigo uma família nascente, pertences familiares, entre mobiliário e livros e acima de tudo a esperança de vencer e poder, no tempo devido, conseguir um melhor futuro para a meninada.
A adaptação teve seus percalços, mas ia sendo vencida com denodo, energia e tirocínio. Érica afinal era uma sobrevivente de gerações que se entrecruzavam na conquista do novo mundo. Além de recatada e do lar.
Ciente da riqueza e até mesmo das armadilhas do regionalismo linguístico, ainda bastante arraigado naqueles anos iniciais do ie-ie-iê,
Érica se precatava como podia, mais ouvindo do que dizia...Entretanto a função de comando não prescindia de suas decisões práticas e quase que invariavelmente vocalizadas. E porque não dizer que o seu timbre também, e tão bem cativava...
E naquela manhã ensolarada que antecedia a abertura do ano letivo, quando se ultimavam os preparativos para se receber aquela horda de irriquietos adolescentes, Dona Érica observou que os trabalhos de limpeza dos jardins do educandário andavam por demais lentos. E não sem razão: os trabalhadores tinham aparentemente dificuldades na remoção de materiais de construção remanescentes e entulhos...
Foi quando ela, temperando dureza e brandura determinou a uma atenta e, imediatamente a seguir, atônita plateia:
- Moços eu acho que vocês fizeram até aqui um belo trabalho, mas ele jamais estará pronto a tempo se não usarem pelo menos um piruzinho...!