D. MARIQUINHA E SEUS INQUILINOS

Era um prédio antigo, térreo, primeiro e segundo andar. Dava para se ver as manchas provenientes de infiltração d'água nas paredes e a falta de pintura que já durava anos. Nem condomínio tinha, era cada um por si. No térreo morava d. Mariquinha, a proprietária do imóvel, por ser idosa ocupava a parte térrea e vivia com uma sobrinha de nome Viviane desde o tempo que ficou viúva, isso há vinte e poucos anos. A menina cresceu, arrumou um namorado e engravidou, nasceu um menino que ficou às custas da velha, agora com seus setenta e lá vai o trem. Cinco anos já tinha a criança e a mãe tinha tempo que trabalhava, tinha tempo que não, d. Mariquinha "quebrava o galho", gostava dela e de Vinícius, um menino danadinho e esperto. Na verdade Viviane gostava mesmo era de namorar e curtir bailes e festinhas até altas horas da madrugada. O pai do seu filho desapareceu depois que soube da gravidez, até hoje ela procura ele para ver se consegue um abonozinho como ajuda. No primeiro andar morava um senhor solteirão que vez ou outra levava umas meninas para dormir com ele, era Domício, o que não era muito do gosto da dona do prédio, pois às vezes as farras incomodavam e ela reclamava. Como ele pagava o aluguel em dia ela tinha medo de perder o inquilino. Já no segundo andar habitava Suelene, uma piriguete toda tatuada com o seu "namorido", pagava direitinho o aluguel, mas tinha meses que atrasava, preferia pagar as drogas que comprava na esquina para aliviar sua dependência, ficava doida quando não tinha pedra para fumar. Quando alugou o imóvel para essa noiada não sabia desse detalhe.

Um grande problema era o morador do meio, o coroa que gostava de menina nova, ficou de olho na vizinha de cima até que ela caiu na sua rede. Quando o "namorido" dela não estava ele subia para transar com ela e lhe pagar para que gastasse o dinheiro com drogas. D. Mariquinha sabia disso e até lhe aconselhou para tomar cuidado e evitar confusão, além de exigir respeito, o que dificilmente acontecia. Também quem caiu na "armadilha" de Domício foi Viviane, mas sua tia não ficou sabendo, ele "comia" ela de vez em quando quando a velha saía para receber sua pensão e isso acontecia muitas vezes até no andar de baixo quando o menino estava dormindo. Também dava um trocadinho para ela não reclamar e ficar "na dela".

E assim d. Mariquinha ia levando a vida, tinha sua pensãozinha deixada pelo marido, tinha mais um dinheiro fruto dos aluguéis e também quando a sobrinha trabalhava, pois ela exigia. O corno do segundo andar não estava nem aí, sua preocupação era somente as drogas que não podiam faltar e o carinho da tatuada.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 20/08/2021
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