A mulher do colante azul
Meninos lindos do tio, fui tumá uma tal de vacina da gripe esses dias e pense numa epopéia da peste. Ao posto de saúde do bairro cheguei bem cedo, todo engomadin, todo mauricin, todo educadin. Já havia um monte de gente esparramado em volta do posto por causa da covid. E agora que estão falano numa tal de variante delta o povo anda tudo assustado, tudo assombrado cum o zói esbugalhados. A quantidade de gente só ia aumentando e não havia ninguém para organizar a fila nem para distribuir senhas. Quando foi por volta das oito horas da manhã uma senhora um pouco rotunda chegou e perguntou quem era o primeiro da fila, uma meia dúzia respondeu: "sou eu", aí começou a putaria, era tanto do impropério que eu pensei estar no Congresso Nacional, se bem que o plano de saúde lá não é tão bom. A mulher quis butá moral e mandou organizar uma fila. Mas que fila? O povo correu todo em direção à mulher querendo garantir um bom ligar na fila, aí eu mêi boca aberta, quando me dei conta, fui carregado pela muvuca, colocado nuns batentes, próximo a uma outra senhora que colocara uma mesa para fazer as marcações das consultas, dos exames e tal. O povo me ajuntou assim como quem ajunta um pacote de uma coisa que não é muito boa. Senti meus pezin dipindurado, procurano os batentes da calçada do posto. Lembrei da história de um homem que foi a um forro no interior do Ceará, tomou uma facada e só foi cair três dias depois quando o povo estava se retirano da festa. Bom, ali por volta das nove horas quando a fila já estava mais ou menos organizada, eis que chega uma beldade de uns cinquenta aninhos, com o corpitiu todo tatuado, bem vestida em um colante, este com suas alças soltas, dipinduradas na altura dos joelhos e alguma coisa parecida com uma blusa transparente. O corpo da mulher carregava o bioma da caatinga, só pé de mandacaru tinha uma meia dúzia, nomes próprios - suponho ser de ex-boys e filhos - tinha uns 30, escudo do curintias, três ou quatro, um dragão e um crucifixo. No braço direito o Sérgio Malandro e no esquerdo o Pedro de Lara. Acho que até a tatuagem da Anita esta mulher fez. Bom, a tornozeleira eletrônica não era tatuagem, era alguma coisa que empunha medo no povo da fila, pois ninguém falou nada quando ela passou na frente de todo mundo dizendo para mesária: "mulher, me atende logo porque eu tô precisano de ir no banheiro urgente, urgentíssimo, recebi um telegrama e quero respondê cum faquisse. A atendente falou: "senhora, aqui também tem banheiro", ao que a mulher de colante rebaixado retrucou: "eu sei que aqui tem banheiro, mas eu gosto mermo de coisar é na minha casa, bem relaxada, fumano meu cigarro". Bom, chamaram o povo da vacina da gripe para uma sala ao lado, aí quando chegou minha vez, eu pedi a "dotôra" (mulher que aplica vacina no interior) para me aplicar a H1N1, ela falou que ali não tinha H1N1 não, mas tinha uma tal de influenza, aí você sabe, de graça até injeção na testa, imagina no braço. Tomei a tal da influenza, aí quando eu ia embora me deparei com a senhora de colante discutindo com uma senhora que estava vendendo cuscuz. Ainda ouvi a mulher do colante azul dizendo o seguinte: "vaila, criatura, tu rebaixô demais teu nívi, tu agora tá vendeno é cuscuiz é?" A outra respondeu: "merman, eu estou vendendo é cuscuiz, pior é quem está só o cuiz".