“Quem é você, heim, linda?”

(Figuras pitorescas perdidas no paraíso)

O coadjuvante dessa história é um caboclo que habita as reentrâncias de um paraíso natural: brucutu, grande com pele queimadíssima do sol. Tem uma companheira que, em quase tudo, se assemelha a ele, exceto por características próprias do ser feminino.

O casal tinha um amigo que, certamente, trazia as mesmas marcas pitorescas, diferindo, no entanto, por sua aparência esguia e uma “deslocada” elegância, absolutamente idiossincrática e pelo fato de ser um grande músico de renome local.

Como sempre faziam, um dia, o brucutu e a sua companheira foram visitar o músico. Como ele não se encontrava, os dois trataram de se acomodar no terreno da casa, a fim de aguardá-lo. A companheira do brucutu arranjou um lugarzinho decente para tirar um cochilo, enquanto o caboclo “moldava” um pedaço de arame grosso que tinha encontrado pelo caminho.

Do arame moldado, surgiu uma espécie de passadeira que o caboclo usou para se livrar do incômodo dos cabelos crescidos na cara.

E lá ficaram tranquilamente esperando, até que, finalmente, chega o músico, totalmente “medrado”. Olhou, olhou, sem conseguir identificar as pessoas que ocupavam a sua “varanda”, mas já se alegrando com a presença de “uma morena de cabelos cacheados”, com quem, provavelmente, iria se refestelar.

Aproximando-se vagarosa e cambaleantemente, o músico pergunta no seu tom baiano e entre sorrisos, ao rapaz de passadeira: “Quem é você, heim, linda?”, cerrando os olhos, numa vã tentativa de identificar sua potencial transa, de modo a não decepcioná-la.

Rapidamente, o brucutu arranca a passadeira e responde em tom hostil, de gente mal humorada: “Oxe!... Sou eu, desgraça, tá me estranhando, é?”