O AVIADOR

(- Deomídio Macêdo)

No dia 15 de novembro de 1980, sábado, uma forte chuva debruçava sobre a cidade de Alfenas – MG, enquanto isso, o menino Marcos Júnior, de dez anos, recortava de uma revista, várias figuras de aviões, que são extraídas delicadamente do papel, como se elas decolassem na imaginação do piloto infantil, e assim, mais um quadro se completava no acervo criado pelo pequeno pesquisador. A chuva cessou, e alguns lampejos de raios solares, começavam a aparecer timidamente, entre as nuvens que ainda pairavam sobre a cidade. O vento invadiu a casa e num movimento leve, rolava a bola com marcas de pés enlameados, para perto de alguns brinquedos sujos de barro. Aquelas marcas denunciavam que Juninho brincou com eles no momento do temporal. O bafejo da brisa anunciava a aragem e nessa condição climática, Adélia aproveitava para lavar as roupas dos seus fregueses no tanque rodeado por plantas frutíferas, que ofereciam sombras para amenizar o calor em dia de sol. Apesar do trabalho árduo, que era a única renda familiar, lá estava a dona de casa, esfregando as roupas, com suas mãos ensaboadas. Por um instante, ela levanta o olhar e observa seu filho deitado no chão do alpendre, quase a dialogar com uma nuvem brincalhona, que ao respingar no seu rosto, lhe traz uma ideia genial. Juninho num salto de alegria correu para o interior da residência, retira uma folha de um caderno usado, que estava sobre a mesa, e ali mesmo arquiteta com todos os detalhes, e conhecimento de causa, um aviãozinho que ao ser lançado no espaço da residência, voou espetacularmente pelos cômodos, arrancando um sorriso do rosto do garoto que sonhava ser um aviador.

(- Alberto Vasconcelos)

15 de novembro de 1990. Sete horas da manhã. Pelotão de aviadores em formatura no pátio da Base Aérea de Anápolis. Diante do major Brigadeiro do Ar, a turma 14 Bis, desfilava para integrar oficialmente o grupamento de aviadores de caça da Força Aérea Brasileira, pois chegara ao fim os preparativos, as infindáveis aulas de mecânica, de voo, de artilharia, de meteorologia... Momentos antes, diante da corporação, a mãe emocionada e com mãos trêmulas, afivelou as asas no peito esquerdo do seu filho, o Aspirante Marcos Jr. Era o início da realização do sonho alimentado desde a mais tenra infância de se lançar no vazio do espaço e com velocidade bem maior que a do som, esquadrinhar os céus em defesa da pátria. Voo de rotina, simulação de abordagem, exercício de tiro passaram a fazer parte do dia a dia até que numa noite soou o sinal de emergência dentro do alojamento. Em poucos minutos o Ten. Marcos Jr. estava afivelado ao coque pit do seu Gripen com os motores ligados aguardando a ordem para decolar. Algo muito estranho estava se deslocando em altíssima velocidade e em baixa altitude. Pelos informes, aquele objeto não correspondia a nenhum outro já descrito. A voz seca do controlador de voo soou forte em seus ouvidos – VAI. Liberados dos freios, o avião se lançou no vazio da noite escura. Coordenadas ajustadas, o painel de controle com as luzes intermitentes passava os informes necessários para um perfeito controle da aeronave. De repente, tudo cessou. O painel ficou às escuras. Sem bússola. Sem horizonte. Sem altímetro. Do rádio apenas os estalidos da estática e o zumbido do motor indicando a perda de empuxo. Ao longe, apenas um ponto azul em movimento pendular...

(- Aristeu Fatal)

Voltemos ao passado. O menino Marcos Jr. durante toda a sua meninice manteve o sonho de se tornar aviador, como já visto. Cursou o primário, o ginasial e depois prestou ingresso na Base Aérea de Anápolis. Sua passagem como acadêmico naquela instituição militar foi brilhante. Sempre o melhor aluno. Isso motivou-o a ter amigos admiradores entre seus colegas, como também, alguns invejosos. Na vida social de Anápolis, a cidade mantinha suas tradicionais festas, de debutantes, aniversários de 15 anos das garotas da sociedade, e outras que o clube da elite anapolense promovia. E sempre haviam os convites para os cadetes dar maior brilhantismo aos eventos, devido aos uniformes, assaz bonitos. Marcos Jr. sempre era requisitado para ser par, seja de uma debutante ou de uma aniversariante. Aristides, um de seus colegas, era daqueles invejosos, porque Marcos Jr. se sobressaia, dado ser bem-apanhado fisicamente, além de tudo. Essa inveja, o levou a ser inimigo figadal do colega. Sempre que podia, aprontava alguma safadeza para Marcos. Estamos agora nos dias atuais. Naquela noite, em que houve o chamado urgente para a missão de averiguar a existência de um objeto não identificado, Aristides tentou, de modo sorrateiro, através de manipulação indevida de fios de controle da aeronave, provocar um acidente, vitimando o colega. Marcos Jr. viu-se em situação de extremo perigo, mas não perdeu a calma. Aprendera, durante o curso, e nos voos treinos, após a formatura, como sair dessas situações. Em poucos segundos conseguiu repor as ligações em seus devidos lugares, dando continuidade normal ao voo. Mesmo porque, se não desse certo sua habilidade, optaria pelo arremesso automático para fora da aeronave.

(- Cléa Magnani)

Apesar do despeito, Aristides nunca deixou transparecer quanto o sucesso de Marcos o incomodava. Até o havia convidado como padrinho em seu casamento com Ludmila, ex-colega de Engenharia de Voo no I.T.A. apenas para ver a reação de Marcos, ao testemunhar sua união com a jovem pela qual o amigo parecia se interessar na Faculdade. Mas quando Ludmila engravidou, nos primeiros anos de casados, Aristides recebeu dois duros golpes: sua amada apresentou um grave problema cardíaco e perdeu o bebê com poucos meses de gestação. Os Médicos disseram que ela necessitaria fazer um rigoroso tratamento, e também jamais poderia ser mãe. Aquelas duas “derrotas” aumentavam os sentimentos negativos dele contra o amigo. E agora, que Marcos também já havia se casado e teve sua primeira filha, a inveja de Aristides chegou ao auge. Desejando a morte daquele que o considerava como seu melhor amigo, cego pela inveja, planejou o defeito, que foi habilmente reparado por Marcos, e que o deixou temporariamente distraído da misteriosa Luz Azul. Voltando a atenção para o radar que nada registrava, Marcos olhou pela janela da cabine de comando, e lá estava ela, ou melhor estavam elas!! Sim! Um grupo de luzes azuladas, diáfanas, que pareciam flutuar em torno do avião. Piloto experiente, jamais havia passado por uma situação semelhante... ele voltava a consultar o radar, e nada aparecia! Mas elas estavam ali circundando a aeronave, como se ela estivesse parada no ar... Marcos conferiu a velocidade: mais de mil km/hora! Tentava fotografá-las, mas nada era registrado na câmera... Foi aí que o mais improvável aconteceu...

(- Deomídio Macêdo)

Adélia adentrou a catedral que costumava orar em Alfenas – MG. Fez o sinal da cruz, se ajoelhou com sua fé imensurável, e ali agradecia a Deus pelos nove meses de gravidez. Ao se levantar sentiu que o líquido amniótico descia entre as suas pernas e as primeiras contrações surgiam levemente. Pediu socorro, e o pároco, que a conhecia, correu em sua direção e a levou para o hospital. Naquela manhã, década de 70 nascia para a vida: Marcos Júnior. Vinte e um anos depois, certa noite, em uma missão, o Ten. Marcos Jr. passou por duas experiências inusitadas: A pane no seu caça Gripen, e logo após, um objeto voador, não identificado, em forma de disco, envolto em luzes o hipnotizara e o improvável aconteceu. Em segundos, adormecia, e na sua tela mental, surgia uma das cenas em que a sua mãe, no evangelho do lar falava amorosamente: Filho perdoe sempre. Ao sair do transe, as luzes tinham desaparecido. Dias depois, o Ten. Marcos descobriu que foi o colega Aristides que fez a sabotagem. No dia 25 de dezembro, Marcos comemorava o Natal com sua esposa Rute e com a sua filhinha Aninha, no clube de campo dos militares. Os jovens exibiam suas habilidades pulando do trampolim. Aristides por maldade, ao passar por Marcos, sorriu para ele sarcasticamente, abraçando fortemente sua esposa Ludmila. Sobe no trampolim e se joga espetacularmente na piscina olímpica. Achando estranho que o rapaz não retornava à borda, sem pensar duas vezes, Marcos entra na água e resgata o colega desmaiado. No hospital, Aristides solicitou a presença do seu salvador e abraçando-o em prantos lhe dizia: Marcos me perdoe. O menino, que dialogava com as nuvens brincalhonas nos céus de Alfenas - MG, entende a mensagem do disco voador e responde: Aristides, você está perdoado.

Cléa Magnani, ALBERTO VASCONCELOS, DEOMIDIO MACEDO e ARISTEU FATAL
Enviado por Cléa Magnani em 28/06/2021
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