UM CAFEZINHO NA CASA DO SEU CHICO
O seu Chico era tipo matuto do mato, casado com dona Barbina, não tiveram filho, viviam numa pequena casa de tabuas já pardas pelo tempo, construído sobre tocos de arvores que a elevavam a mais ou menos um metro do chão. Seu Chico era dono de um pequeno sitiozinho com lavouras de subsistência e no pasto que circundava a moradia, além de um e um burro para lida do campo, matinha algumas vaquinhas leiteiras de onde tiravam seus dez ou quinze litros de leite, ficava com um pouco para o gasto e o restante entregava para um laticínio que mantinha um caminhão que fazia rota para coleta do leite dos pequenos sitiantes da região; no mangueirão de pau a pique criava porcos que depois de cevados, parte era para o gasto e o restante vendia nos açougues da cidade ou para alguns dos moradores das vizinhanças.
O homem era o típico caboclo hospitaleiro, se chegasse alguma visita em casa com certeza não saia sem tomar pelo menos uma xícara de café e este era um grande problema. Dona Barbina, sua esposa, era um mulher zelosa, mas como o curral das vacas e o mangueirão dos porcos ficavam bem próximas da cozinha da casa, o revoar de moscas eram constantes e abundantes no ambiente e ela, por mais que tomasse os devidos cuidados com as coisas e de manter o bule de café na chapa do fogão para não esfriar, costume dos sertanejos que não contavam com as modernidades de hoje, as moscas sempre rompiam as barreiras impostas pela cuidados prestimosa senhora, assim tomar um xícara de café na casa do seu Chico era uma verdadeira aventura, poderia ter moscas ou não.
Foi daí que certo dia fui com um tio na casa do bondoso homem, assim que chegamos, fomos convidados a entrar na sala de onde logo seu Chico gritou para a esposa que estava na cozinha:
___ Barbina, traga café pras visitas!
Apesar de meu tio dizer que não precisava se incomodar e coisa e tal, não demorou muito apareceu a simpática senhora sorridente trazendo uma bandeja com três xicaras de café, obviamente uma era para o anfitrião, outra para meu tio e a terceira para mim. Conhecedor da situação e como era criança não ficou feio arrumar uma desculpa para se livrar da bebida. Meu tio porem para não faltar com a educação não teve escapatória e tomou o café.
Ao terminar de tomar o café, pude contar três moscas enroscado em seu pujante bigode já brancos pela idade, disfarçadamente ele passou a mão pelo rosto e limpou as moscas do bigode, colocou a xicara vazia na bandeja, agradeceu e tratou logo de entrar no assunto que o trouxe até a casa do bondoso senhor.