Festa na fazenda

Festa na fazenda (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)

O sábado estava de arrepiar para Patrícia. Às seis horas da manhã, ela acordou muito feliz. Neste dia de tanta felicidade, ela estava completando dezoito anos. Uma data muito feliz. Já estava na maioridade e mais feliz porque se preparava para ingressar na faculdade. Faria o curso de Pedagogia. Paixão que ela sempre teve, pois ensinar era o dom tão precioso que Deus lhe deu. Conta-se que ela reunia os empregados da fazenda todos os dias para ensinar as primeiras lições, pois alguns deles não tiveram a oportunidade de aprender as letras do alfabeto.

Chegando perto do pai disse:

- Papai, hoje é meu aniversário.

- Tem alguma carne na geladeira. Hoje, vou convidar meus amigos para festejar comigo esta linda data.

- Já vou para a faculdade e quero compartilhar muita alegria neste dia. É sábado, manhã muito linda e na parte da tarde, pretendo fazer um churrasco. Vou providenciar tudo e chamar os funcionários da fazenda, pois eles são meus amigos.

- Estava esquecendo! Alguns colegas da escola também chamarei. O João pegará a van e irá buscá-los na cidade. Inclusive o Eduardo...

- Certo, minha filha.

Respondendo ao apelo da única filha, Marcos estava feliz. Faria um lindo churrasco. A mãe faria muitos pães de queijo. Compraria cerveja, refrigerante e todos os convidados ficariam felizes. Um motivo para ele, além do aniversário da filha, comemoraria o término das colheitas de milho, café e iniciava a colheita das frutas. Mês de julho, ainda frio e muito seco. As pastagens estavam secas, pois caiu muita geada nas semanas anteriores.

- Filha, estou pronto para realizar seu pedido. Porém, chamar o Eduardo é meio constrangedor. Da última vez que ele veio aqui, bebeu muito e fez um pequeno baile. Dançou com os cães, com os gatos e queria buscar uma bezerra para dançar...

- Pai, o Eduardo é muito bom. Quando bebe, fica meio desnorteado. Vou falar para ele não dar escândalos. Pode deixar comigo!

Em pouco tempo tudo estava preparado. A van chegava e nela estavam os poucos convidados. Lamentavelmente, o primeiro a descer foi Eduardo. Muito feliz, com muita conversa e sempre educado, carregava uma mochila. De bermuda preta, camisa rosa clara, calçado de tênis preto e meias azuis, ele foi o primeiro a descer. Cumprimentou a todos e deu um forte abraço na anfitriã.

- Patrícia, dizia ele.

- Hoje, vamos fazer-lhe uma grande surpresa!

- Dentro desta mochila, está seu presente que lhe darei agora. Em outro compartimento, comprei quatro caixas de fogos para anunciar a chegada dos convidados. Para cada convidado, soltarei um foguete e todos baterão palmas. Está certo?

Pela expressão de Eduardo, podia perceber que ele já estava muito alegre. Talvez seria o resultado de duas ou mais latas de cerveja que tomou no caminho.

O churrasco já estava pronto. O pão de queijo também. Foram todos entrando e a festa já não cabia dentro da casa. Muitos risos, muitos gritos, muita música. Sobrou até espaço para Eduardo e o pai de Patrícia cantarem músicas sertanejas, modas de violas e mais coisas. Eram acompanhados pelo empregado mais velho da fazenda, juntos aos familiares e demais empregados.

A esta altura, muitos já estavam alegres e já se pisavam meio alto, pois o efeito da cerveja dava sinais no sangue. Muita cantoria, muito discurso e Eduardo, mais uma vez, interveio e disse:

- Aos convidados aqui presentes, vou pedir para que vocês vão lá para fora. É o momento dos presentes para a “Pati”. Dona Maria, sua mãe, irá chamando um a um. À medida em que cada um for entrando, eu vou soltar um foguete em sinal de alegria. Todos estão de acordo?

Um grande sim foi ouvido.

Eduardo, mais uma vez, interveio e disse:

- Antes de começar, (Eduardo imediatamente pegou um cachorro pastor alemão, muito acostumado consigo, o abraçou e disse que queria dançar a valsa do imperador. Não se sabe como, alguém arrumou a música e os dois dançaram. Foi uma grande festa e muitos risos foram ouvidos).

Todos saíram da área de festa. Em um microfone, com música ao fundo, a mãe de Patrícia anunciava um por um. Cada um era aplaudido. Do outro lado, Eduardo acendia um foguete e soltava. Tudo ia normal. As bombas foram explodindo. Muitos gritos de viva, muitos gritos de felicidade tomavam conta do cenário. Só felicidades.

Pela lista, faltou um convidado. Era o professor de Patrícia. Seu padrinho de batismo. Este professor, além de professor, também era jornalista, advogado, poeta, escritor e fotógrafo amador. Ele sempre gostou de fotografar a natureza. Não veio na van porque estava viajando. Assim que chegou de viagem, montou em sua bicicleta, no ombro a mochila com o presente para a afilhada, máquina fotográfica, calçou um tênis, vestiu uma bermuda e camisa de malha. Uma pequena garrafa de água, ele pedalava o mais rápido possível para chegar a tempo. Não queria perder um só momento de estar perto da afilhada em uma data tão linda, tão maravilhosa...

Uma pequena pausa nas festividades. Quando falou o nome do padrinho e este não estava, tudo ficou em silêncio. Patrícia não contia as lágrimas nos pequenos olhos verdes, maquiados pela própria mãe. Todos ficaram parados e até mesmo Eduardo, que a esta altura já estava totalmente embriagado e começou a chorar.

Perto da porteira, ouviram os cães latirem. Uma pequena voz foi ouvida:

- Afilhada, eu cheguei. Não vim com a van porque estava viajando. Cheguei e vim correndo abraçar-lhe e comemorar está linda data...

Patrícia deu um pulo e saiu correndo para os braços do padrinho. Ela o amava muito. Ela o tinha como luz para a vida profissional, para o mundo todo. Ouvia os conselhos, ouvia a sabedoria dele, enfim, para ela, o padrinho era o espelho de vida.

Foi aquela alegria geral. Eduardo, já não se contendo de emoção e abrindo mais uma lada de cerveja, logo pegou o último foguete. Pôs fogo no pavio e mirou para o alto. O foguete saiu rapidamente, porém não ouviu o estouro da bomba. Minutos depois, um empregado gritou lá no fundo:

- Fogo! Fogo! Fogo no pasto... Venham todos para apagar.

O sol já se punha no horizonte e eles ainda não haviam apagado o fogo. Eduardo, como sempre, encostou em um canto e caiu no sono. Por volta das onze horas da noite é que apagaram o fogo.