A balaiada
Era o tempo das parteiras. E seu Nicácio gostava. Não admitia nem em pesadelo que um doutor viesse a ver as partes de sua mulher, Jesuína, que já lhe dera oito rebentos, ao longo dez anos. E a hora era chegada para a chegada de mais uma criança.
Mas eis que a desgraça se prenuncia: a barriga de Jesuína estava por estourar, desta vez, bem acima da costumeira normalidadde. E mais: a parteira do costume, dona Joaninha, acionada na véspera, e sempre pontual e prestimosa, acabara de mandar mensagem de um súbito impedimento irrecorrível: quebrara o braço direito, numa queda da mula do marido Jacinto. A bichinha, de hábito mansa, tivera aquele piripaque...
No desespero para assistir no parto, Nicácio teve que ceder relutantemente que fosse ao seu acendrado ciúme e se render ao profissional, doutor Minervino, único hipocrático na cidadezinha naquela tarde modorrenta de sábado. Cara amarrada, Nicácio ficou na proximidade, porrete ao alcance, para intervir em qualquer movimento que julgasse ameaçador à modéstia da parturiente.
Com uma hora e meia de trabalho saiu um chorão. Nicácio, da sala comandou que o médico botasse o bebê num balainho que ficava pendurado ao teto com a serventia de rede, justamente para recém-nascidos. Uns resfolgantes minutos após, eis que desponta outro bebê...logo destinado ao balaio. E para o cúmulo dos cúmulos, vem uma terceira criança meia hora depois: tri-gêmeos!
E com os três já no balaio, os respeitosos cumprimentos do médico a dona Jesuína e, para não ver o caldo entornar de repente, ao marido Nicácio..."bravo pai, homem viril e produtivo...digno de todos os elogios, malgrado a sua compleição um tanto miúda e enfezada..."
Nicácio não se fez de rogado, e, já mais relaxado, foi logo soltando uma vitoriosa exclamação:
- É dotô, se num fosse o pé do catre tá quebrado, o balaio ia tá abarrotado...