Do Livro: Não Eram as Feras, Mas os Homens - Violência

Enquanto o seu José estava sentando em sua cadeira de balanço na calçada de sua casa, ele observava atentamente às pessoas que passavam apressadas em direção aos seus trabalhos, escolas, vícios, prazeres e algumas delas, em direção às suas dores.

Atento a tudo em sua volta, seu José pega seu cachimbo e coloca um pouco de fumo preto, ascende e dá o seu primeiro trago. Totalmente relaxado, mas ainda atento a todos os movimentos daquelas pessoas que se faziam indiferentes ao seu redor, ele acredita que talvez elas nem mesmas o notem ali sentado enquanto seguem suas vidas.

De repente algo corriqueiro ocorre. Duas pessoas se esbarram no vai e vem da multidão. Eram dois homens de terno e gravata, talvez fossem executivos de grandes empresas, ou quem sabe, apenas dois desempregados que saíram bem cedo em busca do tão sonhado emprego dos sonhos, e para não fazerem feio e nem passarem vergonha na sala de entrevistas alugaram aquelas roupas “chiques” para poderem impressionar os seus possíveis chefes.

Depois de se esbarrarem os dois homens começam a se xingar mutuamente, ambos gritam que o outro é cego, burro ou simplesmente idiota por não olhar para aonde vai. Em questão de segundos, um simples esbarrão que poderia ter sido resolvido com um pedido de desculpas e um aperto de mãos entre seres pensantes, foi transformado em um verdadeiro espetáculo grotesco, onde nenhuma das partes queria ceder.

Logo em seguida os homens começam a trocar socos e pontapés violentos. O homem mais corpulento parece ter um punho bem pesado, pois já no primeiro acerto, ele abre o supercílio do seu adversário e com o segundo golpe, é lona!

Seu José se sente empolgado com àquela cena, e até se levanta de sua cadeira de balanço para poder ver melhor o desenrolar da história, mas ao que tudo indica, a briga já terminou e o vencedor foi mesmo o homem mais corpulento. A multidão não se interessa por nada daquilo e segue sua marcha para o céu ou para o inferno, tudo depende mesmo do ponto de vista de cada um.

Quando seu José decide voltar a sentar ele percebe que o homem que estava no chão começa a se mexer lentamente enquanto que o suposto vencedor da luta dá-lhe às costas para ir embora. Surpreso, seu José esboça um grito, mas já é tarde demais! O perdedor renasce das cinzas e ao renascer empunha sua arma de fogo que estava até então bem escondida, sabe lá Deus aonde. Em um milésimo de segundo toda a multidão sai correndo em busca de um lugar seguro para se proteger do que vem em seguida.

O homem que havia vencido a luta não percebe nada até que não haja mais salvação. O perdedor dispara sem remorso diversas vezes até que não haja mais munição em sua arma de fogo, violentando fatalmente ali mesmo um de seus iguais. Para espanto e horror de seu José, nenhuma das pessoas que ali se encontram estão inclinadas a chamarem uma ambulância ou a polícia, mas sim, em fotografar e filmar o corpo inerte daquele homem corpulento que talvez fosse apenas mais um pai de família procurando por emprego ou quem sabe, um executivo de uma grande empresa.