MAJOR BALBINO E O TREM
Fazendeiro velho, criador de gado de corte no interiorzão do Mato Grosso, avesso a tudo que significasse substituir a mão de obra humana ou a tração animal.
Desde muito pequeno vivia confinado em sua fazenda, apesar de ser homem bastante cordial com todos.
O governo do Estado resolveu expandir a malha ferroviária e o encarregado da concessionária foi falar com o Major Balbino, porque um dos ramais da ferrovia precisava passar por suas terras a fim de economizar tempo, dinheiro e por ser região plana onde pouca coisa precisava ser feita, além da colocação das pedras britadas, dormentes e os trilhos.
No acordo, ficou estabelecido que seria construída uma plataforma para embarque das boiadas quando essas fossem vendidas para os frigoríficos de outras regiões, para que os animais não perdessem peso com a exaustiva caminhada das comitivas, naqueles sertões onde tudo é distante e custoso.
Ferrovia montada, tráfego ainda insipiente, dois ou três trens por semana, nada que viesse alterar a vida rotineira da fazenda.
Com a chegada do frio, o gado solto no campo, sem cerca nem curral, procura locais aonde possa de alguma forma se proteger dos rigores do clima.
A cama de pedregulhos que serve de apoio para os dormentes, é também um ótimo lugar para descanso dos animais por guardar o calor do sol por várias horas depois que a noite cai.
Gado é bicho que não tem a noção de que máquinas podem causar-lhes danos e, muitas vezes, o trem matou cabeças de gado do Major.
Não era prejuízo de grande monta, vez que sempre que acontecia um atropelamento, a empresa ferroviária indenizava sem reclamar e pelo preço de varejo.
Época das festas de fim de ano, atendendo aos insistentes chamados de parentes na capital paulista, o Major ficou hospedado na casa de uma sua irmã e os sobrinhos o levaram para conhecer o Shopping Eldorado, que naquela época era a joia da coroa com decoração encantadora.
Perto do cadeirão do Papai Noel, vários brinquedos, ursinhos de pelúcia, casinhas de bonecas, carros elétricos e a sensação do momento; o Ferrorama XP 400 da Estrela, montado de tal forma que os trilhos circundavam toda área, aonde as crianças iam abraçar o bom velhinho.
Quando o Major Balbino viu o trem em movimento, sacou o revólver e deu três tiros no brinquedo.
Foi confusão para mais de metro.
Gente correndo para tentar se esconder do terrorista.
Mulheres desmaiando.
Seguranças apavorados tentando evacuar o ambiente enquanto a polícia era chamada.
Já na delegacia para onde foi levado o Major explicou:
- Olhe doutor, eu matei aquele desgraçado porque enquanto ele é pequeno, serve para menino brincar, mas quando cresce mata boi que está descansando nas pedras...