O POÇO MALDITO

Clair e Diogo trabalhavam na mesma cidade do interior de São Paulo, embora fossem ambos da Capital. Ele como Engenheiro de uma empresa que construiria um viaduto que ligasse a entrada principal da cidade à rodovia, que não se unia às avenidas da cidade devido um dos riachos e córregos que abundavam na região; já estava trabalhando ali havia três meses Ela recém formada,em Direito, foi aprovada por um dos Bancos que tinha agência ali, para trabalhar com contratos de financiamento agrícola, havia chegado naquele dia. Encontraram-se na praça da.Catedral onde ele lia o jornal na hora do almoço, num dos bancos e ela chegando à cidade, para no dia seguinte se apresentar no Banco. Ao passar por Diogo, a alça de sua mala arrebentou e ele, solícito a ajudou a colocar a mala sobre o banco, para verem como resolver o problema. Mas não havia como... Ela perguntou se ele conhecia alguma oficina de consertos, e ele deu um risinho amarelo, balançando negativamente a cabeça. Ali o progresso ainda não havia chegado... Para quem nasceu em São Paulo, mesmo que num bairro afastado, Clair estranhou muito a “tranquilidade” dali. Tinha feito reserva numa pensão recomendada por uma tia que morou algum tempo ali, e perguntou para Diogo se ele conhecia a tal pensão. Ele abriu um sorriso e disse que era lá que estava hospedado, a melhor pensão da cidade E a ajudou levando a mala sem alça até a pensão. Encontravam-se diariamente na hora das refeições e ficaram amigos. Já fazia duas semanas que estava trabalhando, e conversando com colegas do Banco, Clair soube que as diversões na cidade eram poucas... havia um Local Permanente de Exposições, e feiras de gado na cidade, mas que só se agitava quando dos Leilões de animais. Mas que as belezas naturais da cidade, como riachos, cascatas e cachoeiras eram o forte. Na hora do almoço combinou com Diogo para irem no domingo até a Cachoeira do córrego Santana, não muito distante, e que nos fins de semana sempre se encontrava alguma condução de moradores da cidade que aproveitavam para ganhar um dinheirinho a mais, levando turistas interessados em conhecer a cidade. E assim foi. Saíram por volta das 10 horas, da pensão passaram num mercadinho compraram refrigerantes, frutas e uns lanches na panificadora próxima, e seguiram para o centro da cidade para procurar um táxi que os levasse até o local. Porém aos domingos, não havia táxis à disposição, mas sim moto táxis e então contrataram dois moto táxis que os levaram até lá. A Cascata era dentro da área de uma antiga fazenda abandonada a Fazenda do Dr.Medeiros, onde a casa, ainda de pé, seria testemunha de fatos estranhos ocorrido por ali.. Contavam histórias assustadoras sobre o local ser assombrado; e os moto taxistas recomendaram que não olhasse para dentro do poço da casa de jeito nenhum. Não souberam dizer o porquê, falaram que ninguém da cidade sabe, mas nem tentam descobrir. Combinaram que os taxistas os viriam buscar às catorze horas. Logo depois chegaram, um casal de moto e uma família com duas crianças. O calor convidava a uma entrada no córrego, de águas cristalinas e refrescantes, e todos aproveitaram. Havia um ranchinho muito simples, com uma mesa alguns cabides e um sanitário muito mal cuidado, onde se podia trocar de roupa. Antes do almoço a família se retirou. O casal da moto também se foi pouco tempo depois. Os dois já haviam lanchado e se preparavam para voltar, quando Diogo foi ao banheiro. Já fazia mais de meia hora que o rapaz saíra de onde estavam, e ainda não havia voltado. Clair preocupada com as moto táxis que estavam pra chegar, foi até o ranchinho onde ficava o sanitário, e não havia ninguém ali. Estranhando, chamou por Diogo várias vezes, e não houve resposta. Deu a volta por trás da velha casa da fazenda em ruínas, sempre chamando pelo rapaz, e não obteve resposta. O local abandonado, estava coberto pelo mato que encobria o que deveria ter sido um belo jardim, com grades enferrujadas e despencadas., trepadeiras selvagens subiam pelos caibros já destelhados de uma espécie de varanda nos fundos da casa, onde um sarilho sem manivela, acusava ser o poço. Clair aproximou-se e viu presa nas madeiras rachadas do sarilho, um pedaço da camiseta de Diogo, Quis olhar lá dentro, mas recuou se recordando do que os rapazes da moto táxi haviam dito: - NUNCA OLHEM PARA DENTRO DO POÇO! Horrorizada saíu gritando daquele tétrico local. O seu grito alertou os mototaxistas que os haviam vindo buscar. Soluçando muito a jovem contou que Diogo desaparecera, e que ela havia visto um pedaço de sua camiseta enroscada no sarilho do poço maldito. Pediu ajuda para que o tirassem de lá, ou para que o encontrassem. Os dois rapazes, entreolharam-se e se negaram a ficar ali mais um minuto

– Nós falamos moça, pra não olharem pra dentro daquele poço! Ele é amaldiçoado!! Eu não fico aqui nem mais um minuto! Se a senhorita quiser voltar monte na moto que eu já estou indo! Você vai ficar, João? – perguntou ao outro motociclista. –

- Mas nem amarrado!!! Tou fora!!! E não volto mais aqui nem pra ganhar dinheiro!!!

Clair desesperada, não sabia o que fazer. Não podia deixar o amigo ali quem sabe até morto? Mas se ficasse, como voltar? O centro de Guara ficava a uns oito quilômetros dali... Insistiu. Suplicou aos rapazes que eles a ajudassem a procurar por Diogo Não era para eles olharem para dentro do poço. Mas fazerem uma busca na redondeza. Depois de muito pedir, e oferecer o pagamento em dobro da corrida, os dois aceitaram dar uma olhadinha nos arredores. Mas nem em sonho passariam do lado da casa onde estava o famigerado poço. Chamaram, procuraram marcas de passos em volta da casa, mas, nada! Clair, começou a caminhar do lado da casa em que ficava o poço. Entre o capim alto que formava touceiras, viu Diogo caído de bruços no meio do mato, desacordado. Chamou os rapazes que o viraram de costas. O rapaz ardia em febre, e tinha um ferimento no rosto. Uma ferida como a mordida de um cachorro que sangrava muito e se apresentava escura, com mau cheiro, e muito inflamada.O carregaram para a beira do riacho. Clair envolveu sua cabeça com a toalha molhada que levara para se enxugar do banho de riacho, o colocaram na garupa de um dos rapazes que, com as roupa de chuva que sempre levava, o amarraram nas costas do Moto taxista, que o levou para a santa casa da cidade.

Nenhum médico soube dizer que tipo de animal o havia mordido, Mas de uma coisa sabiam: era peçonhento; então aplicaram soro anti ofídico, que serve para todas as cobras. Mesmo assim a infecção não cedia. Diogo ainda desacordado, no dia seguinte foi transferido para A Santa Casa de Ituverava, onde o tratamento mais intenso deu resultado, mas o rosto de Diogo guardou a cicatriz. Meses depois a Prefeitura de Guara limpou o em torno da velha casa, pois afinal a Cachoeira do córrego Santana é um ponto turístico da cidade e merece cuidados. Durante a limpeza, um dos funcionários mais corajoso resolveu tomar um gole duplo de pinga, e ir dar uma limpeza ao redor do poço. E começou a cortar o mato com a foice e a retirar os cacos do sarilho que ameaçava desabar poço abaixo. Foi quando ele viu um animal parecido com uma cobra, mas curto, uns 3 palmos de comprimento talvez, e com pernas como um lagarto, e uma bocarra cheia de dentes, que mordeu a lâmina da foice. Ele puxou o bicho para fora do poço e correu gritando:

- Vem Vê!!! Óia o Mostrengo que eu cacei aqui, gente!!! –

Atiraram um saco de catar entulhos por cima do animal e o levaram para a Prefeitura.onde o Prefeito, que era biólogo, enviou o animal para o Instituto Butantã em São Paulo. Era um Monstro de Gila, um dos dois únicos lagartos venenosos do mundo. Ele e o Dragão de Komodo. E o Dragão de Komodo só existe nas florestas de Indonésia, e não vive fora do seu habitat. Mas o Monstro de Gila, natural do México e de regiões ao sudeste dos Estados Unidos, resiste ao nosso clima e ambiente..Porém, como é que esse bicho veio parar no Brasil?

Um dos filhos do dono daquela fazenda estudava medicina veterinária com ênfase em ofídios e sáurios (cobras e lagartos) em São Paulo, e tinha um amigo mexicano, seu colega de curso, que, quando se formou voltou para o México, e mandou pelos correios, ovos do Monstro de Gila que deveriam ser chocados em lugar ensolarado e quente, como o interior Paulista. Nasceram 3 Monstrinhos de Gila, que foram cuidados pelo rapaz, até que um dia ele foi mordido por um deles enquanto os tratava pela manhã, e foi encontrado a tarde, morto, próximo ao viveiro onde ele guardava os animais. Seu avô, o dono da fazenda, ao saber da morte do neto querido, sofreu um infarte e morreu na mesma noite. O pai do rapaz, enlouquecido pela perda do filho e de seu pai no mesmo dia por causa daqueles animais, arrebentou o viveiro a machadadas e matou um deles, cortando-lhe a cabeça, porém outro, ferido o atacou mordendo suas pernas e mãos. O que causou também a sua morte. Arrasada, ao ver sua família assim destruída, sua esposa trancou a casa despediu os empregados e partiu para o Rio de Janeiro, onde tinha sua família. O único sobrevivente dos três Monstros de Gila ficou por ali, e acabou se adaptando ao velho poço, que era ninho de rãs e pequenos sapos, Ninguém sabia disso, mas um curioso que foi espiar dentro do poço foi mordido e morreu também, Daí a lenda de que não se poderia olhar dentro do poço, pois o animal subia para tomar sol, que entrava pelo madeiramento destelhado da cobertura e como suas cores são marrom amarelado com manchas escuras, ficava disfarçado, quando alguém se apoiasse na beirada do poço para olhar dentro era mordido . Seu veneno age rapidamente em contato com o sangue matando em poucas horas, suas glândulas de peçonha se localizam nos dentes inferiores e se mistura com a baba infestada de bactérias o que impede a coagulação do sangue da vítima. Depois de um longo tratamento Diogo salvou-se. Mas o local da dentada do Monstro de Gila, deixou sua marca numa feia cicatriz onde o tecido nunca se regenerou completamente.

Cléa Magnani
Enviado por Cléa Magnani em 29/04/2021
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