Relato de um avistamento da "Mãe do Ouro"
Relato de um avistamento da “Mãe do Ouro” (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
Madrugada do mês de maio do ano de 1971. Mês frio e com possibilidades de geada.
A Testemunha parte para o trabalho em área rural. Todos os dias, por volta das quatro horas da manhã, montado em seu cavalo branco, embrulhado em uma capa de vaqueiro, calçado de botas e esporas. Na cabeça do arreio, o embornal estão a marmita com o almoço, uma garrafa de café, pães e biscoitos. Do outro lado do arreio, duas cabaças com água.
No cantar dos galos, na madrugada, a testemunha toma rumo em direção ao trabalho. Mais um dia de muita labuta para ela. Na agenda, fazer cercas, canteiros de hortaliças, irrigação de flores e verduras, varrer terreiros, tirar leite de quatro vacas, fazer queijo, tratar dos cães, dos porcos, colheita de café, enfim, uma gama de afazeres rurais.
A distância não é muita. São em média oito quilômetros de sua casa até o local de trabalho. Na época, existiam dois caminhos: O primeiro era pela a estrada de rodagem, um pouco mais longo. O segundo era em meio às pastagens, às lavouras de café; atravessar um pequeno riacho, sem passar pela ponte, pois neste caminho não existia ponte sobre o rio. Existiam duas trilhas feitas para a passagem de pedestre e os gados da fazenda, onde o proprietário possuía uma área muito grande de terras.
As trilhas iniciavam logo após a saída da cidade e uma bifurcação era vista. Seguindo à frente, era a estrada de rodagem. Se fosse pela direita da bifurcação, em estrada rural, com cercas dos dois lados e uma descida, era a estrada onde a testemunha passava todos os dias. Com sol, com chuva, com vento, lá ia ela. Somente não passava aos domingos e dias santos, pois ela os tirava para descansar o cavalo e também para estar ao lado da família.
Já distanciava da estrada de rodagem por uma boa distância. Subindo em uma pequena colina, sempre caminhando ao lado de uma mata bem fechada, um pouco mais à frente, uma baixada de mais ou menos mil e quinhentos metros. Era uma área descampada, com poucas árvores e o chão se misturava em pequenos cascalhos, capim gordura, gramíneas, pequenos arbustos, moitas de alecrim...
Naquele local, uma árvore grande e seca, pois dizia que a planta foi atingida por uma descarga elétrica há cerca de dois anos, todos os dias, a testemunha parava para descanso dela e do animal. Descia do animal, tirava do embornal a garrafa de café, um pão, um pedaço de broa ou bolo, o que ali tivesse, sentava em uma pedra e tomava o café da manhã. Somente não fazia quando estava chovendo. Após um pequeno intervalo, ela montava novamente no cavalo e cerca de meia hora já chegava ao local de trabalho.
Naquela madrugada, a testemunha fez o mesmo ritual que fazia todos os dias. Estava frio. Não demorou muito para fazer a primeira refeição do dia. A brisa fria soprava na proa da mata. Ao longe, ele ainda escutava a serenata dos galos cantando. Cães latiam na fazenda próxima. Tudo normal para aquela manhã de sábado. No dia seguinte, seria a folga. Estava feliz.
Terminada a refeição, ela guardou a garrafa com café, ajeitou o arreio do cavalo, abotoou a capa e fez a montagem no corcel. Encostou a espora na barriga do animal e este saiu um pouco apressado, mas logo voltou à marcha de costume. Quase chegando ao final da baixada e após uma pequena curva, começaria a descer. Andariam mais uns dois quilômetros de descida. No final, já se via a fazenda onde trabalhava.
O pingo parou repentinamente e quase que a testemunha cai. Com a cabeça para cima, ele não mais quis ir para frente. Começou a andar para trás, expelindo o ar pelas narinas, refugando os passos, ficando apavorado, ele não obedecia aos comandos da testemunha, que foi obrigada a descer. Quando ela desceu, o corcel tomou-lhe as rédeas e saiu a galope em direção à fazenda. Um forte chiado foi ouvido e imediatamente o chão foi todo iluminado, onde se via até um pequeno formigueiro na trilha. A intensidade da luz era tão forte e o barulho feito por ela era muito vigoroso, o expectador tentava se proteger da luz intensa e o forte som emitido. Não conseguia ver o que estava ali no alto, mas sentia o forte calor no corpo, o rosto começou a suar. Ela sentiu o corpo levitar em algum momento, mas foi passageiro. O terror durou mais uns dois minutos. Aos poucos, a luminosidade foi diminuída até se apagar por completa.
Passados alguns minutos, a vítima foi-se restabelecendo a consciência. Olhou para cima e viu uma pequena luz, na cor amarela bem forte, sobrevoar a mata e ir em direção da fazenda.