OPS O CONTO

Duca era mais aloprado do que azarado. O azar não andava do seu lado, mas a maneira desconfiante do qual levava a vida, prejudicava-o e tanto, muitas vezes não só a ele, mas a qual-quer um que por seus momentos de chiliques tivessem a honra de estar do seu lado.

Num certo dia, a quase quarenta minutos de espera no ponto de ônibus, Duca bem que presenciou algo de errado. Algo parecido mais para o além.

Por ali passava todas as conduções, menos ao que levaria Duca para o serviço. Dentre daquele intervalo, pessoas chegavam e outras partiam. De repente, dois rapazes aparentam lhe fazer companhia. Companhias frias. Sem ao menos a um simples diálogo, para aqueles que não compartilhavam da mesma suspeita, arriscando-se a dizer que os suspeitos estariam na espera da mesma condução.

Poderia ser. Mas se fosse, era por questão de acaso, já que entre eles, haviam-se a cons-cientização de que nem amigos, ambos eram.

Um, era fortinho, pele bronzeada, usava roupa de roqueiro e se encontrava exposto a um muro branco do qual servia de paisagem àquela localidade.

Já o outro, de um modo exaustivo, caminhava de um lado ao outro, até que desistente do “chá de cadeira” devido à demora da condução parava-se emburrado à calçada do lado oposto do ponto, sem perder de vista o momento desejado da condução que haveria de surgir.

Minutos se passavam, finalmente uma nova condução surgia, aproximando-se, deixando um novo companheiro.

Para Duca, aquilo era um cúmulo. Cadê a condução que o levaria para o serviço? Feroz como um leão, empossado como uma cobra, isso não saía da sua mente. Porém, enquanto ele retrucava aos pensamentos, o tal rapaz exaustivo, aproximava-se do novo companheiro. Seus diálogos começavam baixo, até que, quem estava por perto notara que aquilo não se passava de um assalto.

Foi tudo muito rápido. O novo passageiro, ileso saiu, enquanto o bandido vitorioso fugia do assalto.

O tal fortinho, foi o primeiro a amparar a vítima do assalto:

― Ele te roubou? – interrogou, aproximando-se, antes mesmo de receber o sim.

Os demais passageiros, pasmados do “chá de cadeira se esqueciam, despertando apenas para a curiosidade do momento.

O fortinho presenciando a cena, continuou:

― Pessoal, é o seguinte, nosso amigo acabou de ser assaltado e nem da cidade, ele é... – pausou, percebendo o fluxo da atenção de todos. --- Quem puder, vamos fazer uma vaquinha, cada um colaborando com o que tem.

Aquilo foi fatal. Todos colaboraram. Quer dizer, menos Duca e uma senhora que se apre-sentava como Bernadete, pois, ambos, eram os únicos que não se emocionaram com o caso. Mas que diferença aquilo fazia? Afinal, pelo que puderam notar, aquele assalto aconteceu no lugar certo. Um monte de notas de: um, cinco, dez e até vinte reais a vítima ganhou. O brinde era tanto que a cara de choro que ele havia ganhado no momento do assalto, o bandido aparentava tê-la raptado.

A um tímido sorriso, mas não se inibindo a alegria pelas granas ganhadas, a vítima do as-salto agradecia a todos, logo partindo. Ufa! Até que fim! A condução de Duca chegou. O ponto logo se esvaziou. Enquanto de dentro do ônibus, aos que presenciaram a cena, aos olhares se despediam da vítima, que continuara o trajeto a pé.

Já de condução tomada, Duca aparentava tornar-se humano, compadecendo de vez pelo o que presenciou minutos atrás. Porém, a poucos metros, em duas avenidas após o ponto, descobriu que esquecera a carteira de dinheiro em casa, algo que, sem outra alternativa, desceu do veículo em busca do objeto, sem ao menos saber o próximo horário da determinada linha de ônibus.

Emburrado, a única opção foi aproveitar-se do caminho mais curto que o levara pra casa. Já de caminho andado, Duca avistara o tal rapaz (a vítima do assalto), junto do assaltante, no maior bate-papo numa mesa de bar, fardados de petiscos e bebidas.

― Cara de pau! – pensou Duca.

Um dos caras, reconhecendo-o na audácia o convidou para sentar junto deles. Pedido negado, sem poupá-los com uma cara de indignação pelos atos.