Joana

O povo não a entendia. Suas lágrimas caídas persuasivamente em angústias por velórios de desconhecidos era o seu ganha pão. Joana não chorava por contentamento, muito menos por falsidade, mas pela única opção que a vida deu-lhe. Joana era viúva, mãe de seis filhos. O maior, treze anos. O menor, treze meses. Carpideira, era esse o nome da sua profissão. Profissão não conhecida na carteira, por mais que era a sua garantia de sustento aos filhos. Profissão que dividia e muito a opiniões do povo da cidade. Mas que mal faria? Era assim que Joana sustentava a casa. Para aqueles que a conhecessem de perto, arriscavam-se a dizer que essa estranhável profissão a certa altura da sua vida, servia-lhe de terapia, pois, entre as lágrimas obrigadas a enxurrar nos velórios contratados, Joana em determinados momentos focava os pensamentos na vida dura da qual levava. Terapia que muitas vezes bons resultados renderam-lhe emocionalmente.

Num determinado dia, um talentoso diretor de teatro, por sua dedicação profissional se apaixonou. Pois, do velório de um grande amigo, o tal diretor a conheceu. Amizade que lhe rendeu muitas peças teatrais. De carpideira, atriz ela se tornou. Pobre Joana, a esta oportunidade bem que aos punhos procurou agarrar, enfim, a essa profissão não pode levar adiante, pois, descobrira que chorar era a única coisa que sabia atuar. Sem alguma outra opção, a vida de atriz, de coração partido ela deixou, retornando à carpideira.

Anos retornado a carpideira, num determinado velório, o próprio viúvo a ela se apaixonou. Devida as boas palavras o coração de Joana, conquistou. Conquistou. Namorou. Noivou e casou-se. Ma, em plena lua de mel Joana novamente viúva ficou. Sem ter noção do valor da herança que o herdeiro deixou, ainda com os filhos de menor para defendê-la, a família do finado a ultrapassou, tornando-a à pobreza.

Vida cruel que além dela, aos seus filhos pregou. O filho mais velho, tal vez por ser o único a presenciar o tamanho do sofrimento da mãe, a angústia por muitas vezes a voz transparecia, rendendo-lhe diante daqueles que conheciam a arte, a profissão de locutor de programas românticos. Já a filha mais velha, por ser uma moça, sentimento mais sensível a vida, ensinou-a cobrar e sem temor o que era de seus direitos. Atitude que fama de “barraqueira”, espalhou-se pela cidade, dando assim a oportunidade de trabalhar numa grande empresa como cobradora de serviços contra clientes inadimplentes. Já os demais, por sentirem o orgulho da mãe, decidiram a mesma profissão seguir, há os que comentam que até uma empresa focada a este serviço abriram, cujo nome é: Vai com Deus!