A vaquinha Princesa.
Se passava o ano de 1975, eu tinha 15 anos e morava em Cajamar, um município bem próximo à capital paulista, naquela época a região ainda mantinha um ar totalmente rural e havia vários sítios nessa região, hoje o local já é uma região urbana desta cidade. Vivíamos uma época de inverno bem rigoroso, e eu trabalhava em um sítio cuidando de algumas vacas de um senhor, eu fazia toda a lida com o gado, pela manhã tirava o leite, soltava as vacas no pasto e as ficava vigiando. Certa manhã ao chegar ao curral percebi que uma vaca chamada Princesa, estava começando a parir, era uma vaca muito dócil. Então eu a separei das outras e a deixei presa no curral e fui avisar ao proprietário, ele me disse que ia sair e que eu ficasse observando o parto da vaca. Eu não tinha muita experiência em parto de animais, mas achei que a vaca estava demorando muito para ter o bezerro, já era bem tarde e ela ficava rodando dentro do curral, mas não paria. Retornei à casa do proprietário, mas ele ainda não tinha chegado. Falei com a esposa dele, e ela me disse que tivesse calma, pois os partos de vacas eram assim mesmo, algumas demoravam a ter o filhote. Retornei ao curral e percebi que o rabinho do bezerro estava saindo ao invés de ser a cabeça, então eu falei com um senhor que trabalhava no sítio, o seu Manuel e ele foi comigo ver a vaca, então ele falou, isto não é normal, e ele foi à casa do proprietário e falou com a esposa dele, que deveria chamar o veterinário, e assim foi feito. Ao chegar o veterinário conseguiu virar o bezerro dentro do útero da vaca, mas ela não tinha mais forças para expelir o bezerro, então ele pegou uma ferramenta com umas correntes e prendeu os pés do bezerro e puxava tentando “sacar” o bezerro, mas sem sucesso, por fim ele fez um tipo de episiotomia na vagina da vaca e conseguiu tirar o bezerro, mas ele já estava morto, o veterinário fez uma sutura no local e mandou deixar a vaca sozinha, e assim fizemos. A noite eu quase não consegui dormir preocupado com a vaca e bem cedo fui ao curral para vê-la, ao chegar lá tomei um susto, as outras vacas estavam ao lado do curral olhando para ela e urrando como se estivessem chorando, e então eu percebi que a vaca tinha morrido. Foi uma cena marcante que me deixou muito triste.
O conto “Bois que Choram” da poetisa Miss Araújo me fez lembrar este ocorrido, que foi um fato real.