O Ouro do Rio Madeira
Nascido às margens do Rio São Francisco, conheci a canoa como primeiro transporte fluvial. Nos meus passeios turísticos por todo o Brasil, sempre que há passeio de barcos por rios, lagos, lagoas e mar, lá eu estarei.
Em Porto Velho, em Rondônia, eu e minha mulher optamos por um passeio pelo rio Madeira, num potente barco, com tudo que se tem direito a bordo, como música, bebida, tira-gosto e refeições, além da companhia de outros turistas do Brasil e do exterior. Entre tantas atrações ao longo do passeio, os casebres flutuantes que fazem a garimpagem de areias provindas das profundezas do rio, cujos garimpeiros recebem a semanada pelo trabalho, por ocasião do rodízio, me fizeram lembrar a minha função de caixa de um banco, pelo que um colega dava a seguinte definição: "caixa é o pobre que mais pega em dinheiro." Ali vi que o garimpeiro é o pobre que mais pega em ouro. O principal fica com o intermediário, o atravessador. Aquele que fica a semana inteira, flutuando sobre o rio naquela choupana, tomando uma cachacinha para resistir às noites insones sobre o balanço do rio, recebe apenas uma ínfima remuneração, enquanto o ouro vai para os poderosos do capital.
De volta do passeio, já próximos ao hotel em que estávamos hospedados, resolvemos tomar uma água de coco, numa calçada da rua. E a mulher do vendedor revela sua verdadeira história. Somos do Nordeste. Viemos para aqui atraídos pela "riqueza do ouro". E ele, o que ganhou gastou com cachaça e rapariga. Hoje somos apenas vendedores de água de coco, com menor resultado do que a mesma venda de água de coco lá nas praias do nosso Nordeste.