O FERRORAMA

Charles era um homem que tinha um sonho, mas Charles se encontrava distante de Deus. O vazio o oprimia, e ele as vezes pensava que seu sonho não fazia sentido algum. Ele cresceu desencorajado para lutar, falava baixo, era o último dos últimos. O seu erro maior em sua vida era deixar que decidissem as coisas por ele. Charles acreditava mais nos outros do que nele mesmo. Tudo começou lá na infância quando os pais poupavam o pequeno Charles de " quebrar a cabeça" para montar o brinquedo ferrorama XP 500. Eram muitos trilhos pra encaixar, pontes, sinalização, colocar o trenzinho pra percorrer todo o circuito, fazer com que ele engate no vagão de passageiros... Ufa! O pai do garoto, seu Orlando, era quem montava o brinquedo enquanto o menor só ficava olhando encantado, com os olhinhos brilhando.

Charles era um menino inteligente, na escola era aluno nota dez. Mas os pais tinham uma coisa negativa que era não soltar o filho, deixá-lo encarar os problemas. Assim como o brinquedo ferrorama, a vida também é um quebra-cabeça. E quando passamos a refletir para encontrar a melhor saída então somos livres e a nossa vida começa a entrar nos trilhos, tal qual o trenzinho. E assim Charles foi crescendo, sendo dependente, quase como se fosse um doente. Gente que sonha tem coração, gente que não acredita no seu sonho, só traz um coração a bater. Mas dorme, e o tempo passa e ele precisa que alguém o desperte! Pois o medo trancou seu coração, e com o coração trancado é impossível sonhar! Por isso ele fica inerte, sem ação! Charles é um homem bom, não reclama, não é atrevido, não é mal - educado, não fala mal de ninguém. Seu único defeito é não acreditar no seu sonho porque ele tem muitos sonhos. E todos eles se resumem num só: felicidade. Charles cresceu sozinho, filho único. Se acostumou à solidão, mas no fundo ele sabe que a solidão chega com uma conversa triste. A solidão diz que Deus está distante, diz que somos incapazes, somos coitados, e que é melhor ser protegidos do que criar coragem para avançar. Mas Charles, agora que é homem feito, olha para a sua vida e vê onde se deu início o problema. Ele não culpa os pais. Eles erraram sim, mas o amor dos pais é o carinho que não encontramos na vida lá fora. A vida não perdoa, ninguém quer o bem de ninguém. Só tem fingimento, infelizmente! E se você optar por contar com os outros, você fica no meio do caminho. Não avança! Pois opinião cada um tem a sua, e se você der ouvidos você não sai do lugar! E se você briga com seus pais, diz que eles são culpados pelo seu fracasso, você não tem razão, você é filho ingrato! Você " quebra a cara" no mundo e tem vergonha de voltar pra casa porque brigou com seus pais. Ainda bem que Charles não" quebrou a cara", ele sabe ouvir os pais. Charles agradece o que os pais fizeram por ele, mas diz que hoje ele não é mais aquela criança que não sabe resolver um " quebra-cabeça" . Charles encontrou o seu lugar, Charles está avançando! Até que enfim!...

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)