Salvos pela onça
Seu Zé ainda lembra dessa história, foi há muito tempo, lá 'pras' bandas de Gabiarra, num tempo em que já se praticava a extinção, mas não se ouvia falar dela. Foi assim, Seu Zé e Jeremias, irmão dele, resolveram que era um dia bom pra caçar uns macucos, cortaram a mata já de tardezinha, desceram um encosta e foram rumo ao lugar que os macucos começavam a empoleirar.
Seu Zé subiu numa árvore para ficar na espera, e Jeremias desceu para perto do riacho com os cachorros, ele iria atiçar os macucos e quando levantassem vôo, Seu Zé disparava a chumbeira. Mas, qual não foi que Jeremias demorou. Seu Zé ficou ali e a mata virgem foi ficando escura. De repente, ele viu o mato quebrar, pensando que fosse um caetetu, virou-se pronto pra atirar. Que caetetu que nada! Era uma tremenda de uma onça, a primeira vez que Deus criou porque era uma bichona erada, a lua, que tinha saído mais cedo pra ver a onça jantar um, refletiu bem nos olhos da gatona. Ela lá, encarando ele. Seu Zé não tinha mais nem tempo pra ter medo, devagarinho, preparou a espingarda e mirou bem no meio da testa, adrenalina a mil.
Mas pra manusear a chumbeira, ao preparar pra atirar, ela dava uns estalos, foi o que aconteceu, a chumbeira deu os dois estalos e a onça pintada, ao invés de atacar se assustou e fugiu quebrando mais mato. Seu Zé chamou o cachorro Rufião e Perdigueiro que foi só o que ele lembrou na hora, mas veio a matilha toda e começaram a perseguir a onça. No que a onça foi para um lado, Seu Zé, já gritando Jeremias, foi para o outro.
Naquele dia, os macucos foram salvos pela onça. Os caçadores voltaram para casa, e ouviram os cachorros perseguirem a onça até lá pelas duas da madrugada. Seu Zé e Jeremias ficaram esperando, se os cachorros acuassem eles iriam, mas os cachorros desistiram e a onça sumiu do mapa.
Mas isso faz muito tempo, foi há uns setenta e tantos anos e só sobrou Seu Zé como testemunha da história