O CAUSO DE VANDO

Até hoje, quem disser que viu Vando sem estar caindo de bêbado, está mentindo.

Desde que ele experimentou aguardente pela primeira vez, nunca mais parou, principalmente nos sábados, dia de feira onde sempre aparece alguém para pagar uma bicada para os amigos.

E foi num desses dias de feira que aconteceu o roubo da loja do judeu, naquela ruazinha estreita ao lado do mercado.

Teve até tiro.

Os ladrões levaram todo o dinheiro, as joias e relógios do Sr. Ariel, tanto os que estavam na vitrine como os que estavam no cofre lá do fundão da loja.

Apesar da gritaria, ninguém soube dizer quem eram os ladrões e para onde fugiram.

O comissário Matoso foi chamado, os meganhas danaram-se a procurar pelas redondezas, mas o único bode expiatório que encontraram para dar uma satisfação aos habitantes foi Vando, que estava escornado na calçada da igreja, bêbado, como sempre.

Mas o comissário disse que aquilo era disfarce e levou Vando para dentro do comissariado.

Começou o interrogatório, mas Vando mal podia articular alguns balbucios.

O comissário, mandou o investigador enfiar a cabeça dele dentro de um barril com água.

- Ou você fala, ou morre afogado, seu desinfeliz: onde é que estão as joias? – dizia o investigador Chico Zarolho.

Depois de três ou quatro vezes em que ficou com a cabeça mergulhada, Vando conseguiu dizer ao investigador.

- Ói, é melhor o senhor arranjar outro mergulhador para procurar as joias, porque eu não sei nadar não senhor...