Casada com a Mentira

Fingiu que amava, disse mil vezes eu te amo, anunciou ao mundo, mandou carta, até achou que estava completamente apaixonada.

Manipulou sedução, desejou incrementar a relação, disse aos amigos que estava transbordando de emoção.

Tanto fez que logo caçou o pato, colocou no dedo uma aliança, engravidou em segredo; bomba! Obrigou-se a se casar.

E de amor falava, registrava em fotos, todo dia era uma ilusão criada, a vida que achava estar construída.

O tempo passou, os filhos cresceram e cadê amor? Será que se escafedeu ou nunca apareceu? Continuava insistindo, todo ano era uma boda de casamento, comemoração não era pouca, queria que o mundo soubesse.

E a felicidade, a lealdade, o companheirismo, cadê o amor de verdade? Mas seu conto de fadas precisava durar para sempre, pois havia jurado para mãe, para o marido, para o padre, até para os irmãos que era amor puro e eterno.

Mentia o gozo, mentia a felicidade, mentia a satisfação, mentia até o ciúme, só não o vazio do próprio coração.

A idade avançou, o tempo dava sinais, cansada já estava de ser mãe, dona de casa, sem vida real, descontentada, estava fria, depois de tanto tempo mentindo para si mesma, não mais conseguia fingir, pelo menos seus olhos lhe denunciavam.

Certo dia se topou com a verdade, por um homem estava encantada, o cupido parecia ter lhe flechado, chegando sempre do trabalho com a voz embaraçada, depois de cada cantada.

Fatalmente seus atos tiveram consequências ruins, descobriu o amor verdadeiro de uma forma irônica, ela que achou ser dona da razão, mentir era como um dom que ela tinha dominação, naquele tranco da vida, entendeu que quem manda é o sentimento, o despertar de um coração.

Literalmente, ela estava numa berlinda, mentir toda mentira ou falar na íntegra o teor da sua vida? Confrontada pela verdade arruinou toda sua história, quando pensava em abandonar o que construiu e confessar tudo que mentiu "Amor, parceria, família".

Do outro lado, trêmula ficou ao cogitar dizer para o amado que lhe amava de peito cravejado, tinha também que revelar o embromado, já que toda sua mentira era de papel passado.

O resultado de uma medíocre vida, foi uma mulher incompreendida pela própria consciência, que passou a vegetar em recaída a cada lapso da memória distorcida que lhe agredia. Louca ficou, psicótica, deprimida e por sua mentira foi sucumbida, deixou que a morte lhe tomasse em vida.

CarlaBezerra

Divina Flor
Enviado por Divina Flor em 01/04/2021
Reeditado em 01/04/2021
Código do texto: T7221474
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