ZURUBINADO

Desde molecote, Quinca, filho do bodegueiro Joaquim, vivia trepando pelas árvores frutíferas dos quintais dos vizinhos, principalmente nas épocas de safra. Colhia as frutas para os donos das plantas e ficava com parte delas.

Nesse meio tempo aprendeu como se faz a poda de algumas delas e resolveu comprar as ferramentas para ganhar dinheiro fazendo o serviço para quem estivesse precisando, mas como todo operário brasileiro, achou que EPI era coisa para veado.

Dona Rosilda, costureira responsável pela confecção dos vestidos das mulheres da maior parte das famílias vizinhas, morava no casarão da rua principal, no meio de terreno enorme com horta e muitas árvores frutíferas.

Mangueira é uma dessas plantas que tem crescimento indefinido, quanto mais velha, mais ela cresce e mais frondosa fica.

A madeira, enquanto verde é resistente, mas depois de seca torna-se quebradiça e já foi responsável por inúmeros desastres, até morte do infeliz que esteve por baixo do galho quando ele se destacou da planta mãe.

Bem ao lado da casa da costureira tem um imenso pé de manga espada e dona Rosilda, para evitar um desastre, tanto no telhado da casa velha quanto nas freguesas, falou com Quinca para ele fazer a podação para que a mangueira ficasse comportada sem ameaçar ninguém.

Serviço contratado, logo pela manhã Quinca armado com todo arsenal de cordas e ferramentas, começou pela parte de baixo e ao chegar nos galhos mais altos, agarrou-se num dos que já estavam secos e despencou lá de cima.

Ficou estatelado no chão, com o olho zurubinado que nem um zabelê.

GLOSSÁRIO

Zurubinado – neologismo do Sertão Pernambucano; não se explica, mas no dia em que o cabra vir um cristão zurubinado, vai entender perfeitamente.

Talvez a expressão seja derivado de obnubilado, estado patológico de confusão mental, visão turva, etc.