A porta proibida

Eu e minha irmã, Rose, fomos passar as férias de verão em Pensacola, Flórida, na casa do tio Frank. Tio Frank era o irmão caçula da nossa mãe, e devia estar no seu terceiro casamento, desta vez com uma mulher de cabelo exageradamente louro e que fumava dentro de casa. Fora isso, Millie, como ela gostava de ser chamada, não era má pessoa.

Tio Frank e Millie eram atenciosos e nos levaram à praia, onde estávamos proibidos de ir sozinhos; "vocês ainda não tem idade para isso", nos relembrava ele com seu calmo sotaque texano. Na casa de dois andares onde o casal morava, contudo, estávamos liberados para brincar onde quiséssemos. Menos no porão.

- É onde faço minhas experiências - afirmou tio Frank com ar zombeteiro, quando lhe perguntamos a razão da proibição.

Fosse lá como fosse, a porta de acesso ao porão vivia trancada a cadeado. Eu e Rose conversamos muitas vezes sobre o que poderia estar escondido lá embaixo, e não chegamos a nenhuma conclusão.

- Espero que não esteja pensando que o tio Frank é um assassino serial, - sugeri, rindo da minha própria ideia - enterrando corpos no porão!

- O tio Frank não, mas aquela Millie é bem esquisita - ponderou minha irmã, muito séria.

Finalmente descobrimos onde nosso tio guardava as chaves de reserva, e num belo dia, enquanto ele e Millie foram ao supermercado, nós surrupiamos as chaves e abrimos a porta proibida. Ao descer as escadas, o que vimos nos encheu de espanto: fileiras e fileiras de vasos com plantas altas, crescendo sob lâmpadas fortes.

- O tio fez uma estufa no porão? - Questionei minha irmã, intrigado.

- E tudo ligado... - Rose também não estava entendendo nada. - A conta de luz daqui deve ser uma fortuna!

Com tanto sol na Flórida, por que meu tio simplesmente não havia construído sua estufa no quintal da casa, era a pergunta que não queria calar.

A resposta, nós só fomos saber muitos anos mais tarde...

- [26-03-2021]