DE ILUSÃO TAMBÉM SE VIVE
- Cléa Magnani
Num encontro de “Amigas Idosas”, numa atípica tarde garoenta de primavera, a mesa ia ficando sem espaço para as delícias que cada uma ia colocando ao chegar. A cada ”nova velha amiga” que chegava, gritos efusivos, abraços saudosos, beijos, trocas de notícias, de receitas, de problemas que iam sendo amenizados por palavras de ânimo e empatia, nomes de remédios miraculosos, e de outros, “que não prestaram pra nada”, música dos anos 60, cantorias, dança, coreografias, falatório alto e assunto de nunca se acabar...A Alegria planava voluptuosa e todas demonstravam estar muito felizes naquele ambiente de confraternização de ex-colegas. Foi quando uma delas propôs uma brincadeira, na qual um objeto seria atirado para o grupo, e quem o pegasse deveria ter uma reação, segurá-lo pelo maior tempo que pudesse e depois atirá-lo para a próxima “vítima”. Expectativa geral para saber qual seria “a Batata Quente” que seria atirada para o grupo. Então a proponente da brincadeira, depois de um grande suspense, abrindo e fechando o saquinho que tirou da bolsa e voltando a ocultá-lo, acabou por arrancar de dentro e exibir maliciosa, um enorme falo ereto. Foi um rebu! As elegantes e bem-comportadas senhoras uivaram como um bando de lobos famintos ao encontrarem um inocente e apetitoso coelhinho, e literalmente de atiraram sobre aquela “parte da anatomia masculina”, mesmo decepada, como se fosse a única razão para continuarem vivas!
- Deomídio Macêdo
As amigas escolheram o apto 1002, da colega J. Lin, solteirona, para realizar a festa. Ela tinha muitos pretendentes, inclusive o seu vizinho Marcelo, do apto 1003, administrador do condomínio, um cara sessentão, solteiro, que diziam ser fissurado por J. Lin, mas, que nunca teve coragem para abordá-la e revelar seus sentimentos; e que J. Lin por sua vez, também sentia uma forte atração por ele. Por ser administrador, Marcelo descobriu que a sua “amada”, naquela noite, iria realizar uma festa e com essa notícia, surge em seu coração o ciúme. À noite, do seu apto, ele observa toda movimentação, tentando captar algum lance que poder-lhe-ia dar uma resposta. A festa chegou no clímax total. As amigas da época do colegial se divertiam entre uma bebida e outra. O falo ereto, cobiçado, foi passando de mão em mão. Cada uma em algazarra fazia a sua cena ao bel prazer da sexualidade. O objeto da virilidade masculina foi jogado no colo de J. Lin, que toda animada o agarrou com delicadeza. Levantou-se. Subiu em uma mesa, ao tempo que o volume da música é aumentado e os aplausos explodem no ambiente. A elegante senhora fecha os olhos e dança encostando o falo ao peito e ao rosto. A luz que a envolve deixa sua roupa transparente, mostrando os belos contornos do seu corpo. Curioso, o administrador, resolve tocar a campainha do apto, de onde estava vindo o som alto. Era apenas um pretexto para sondar o motivo de tanta alegria. Uma das colegas desatenciosa, abre a porta, no momento que J. Lin dançava à vontade. O simpático Sr. petrifica com a cena de rara beleza. A dançarina o percebe, e se disfarçando muito bem, continua sua dança sensual, deixando o senhor com a libido à flor da pele.
- Alberto Vasconcelos
Enquanto a histeria libidinosa se disseminava pelo grupo, Maria Justina Mello de Albuquerque e Silva, pelo celular mandou que o seu motorista viesse busca-la, levantou-se pegou a sua bengala com castão engastado de pedras semipreciosas, a bolsa de pele de jacaré e em tom acima do burburinho generalizado, falou para que todas ouvissem: É inaceitável este comportamento das senhoras. Até então eu considerava estar em ambiente decente, mas trata-se de um lupanar, portanto não há mais nenhum motivo para que eu permaneça aqui. Não quero estar entre pessoas que se comportam como as vadias frequentadoras de bailes funk. As senhoras que foram minhas colegas no colégio, que também se formaram professoras, com quem eu dividi horas amargas e idílicas, transformaram-se em pessoas que devo evitar, porque essas falas e atitudes são próprias de atrizes pornográficas que não têm respeito por nada, nem pela própria condição de serem humanas. Não sou nem menos nem mais mulher do que as senhoras, mas a decência e o recato devem permanecer enquanto rugas roubam as nossas belezas. Quantas das senhoras teriam esse tipo de comportamento diante dos seus filhos, esposos ou em praça pública? Sinto-me vergonhada por essas falas mentirosas, pelo ridículo dessas atitudes inaceitáveis até em mocinhas na plenitude de seus hormônios. Criar situações inexistentes é revelar baixa estima e frustrações pelos sonhos irrealizados, é tentar parecer excelência, mas nesses termos, é a desvalorização pessoal e decadência moral o que estão a demonstrar. Por isso peço, encarecidamente, que não me procurem mais. E, diretamente para a dona da casa, por favor abra a porta, prefiro esperar lá fora debaixo da garoa que meu motorista venha buscar-me.
- Aristeu Fatal
As amigas nem ligaram com a reação da Maria Justina, pertencente a alta sociedade, de família tradicional, tida como puxa-saco dos professores do normal, e somente assim obtinha notas boas. Então, a festa continuou, com todas na maior descontração. J. Lin sentindo a presença do administrador, acabou convidando-o para dançar com ela. As amigas vibraram. A dançarina terminou seu show, indo sentar-se exausta, tendo seu par ficado em cima da mesa, com o coro das mulheres exigindo que ele continuasse a dançar. DAN-ÇA! DAN-ÇA! DAN-ÇA! Assim, já desinibido, ele começou a fazer um strip-tease, mostrando todas os seus dotes físicos, para aquele grupo de mulheres, que nunca tinha visto coisa semelhante. Será? Isso tudo, apesar de ser visto como um fato inesperado, foi preparado anteriormente por J. Lin, que naquela altura, já estava “namorando” o administrador, e combinara com ele o show que haviam dado. E até ensaiado. Êta chinesinha do peru! Aí, o grupo deu uma pausa, a fim de se deliciar com os quitutes. Aproveitaram para comentar a atitude da Maria Justina, que na realidade não era nada bem vista, sempre demonstrando um ar de superioridade, e nunca participava nos eventos com as colegas. Ficaram surpresas quando ela chegou. Algumas das presentes comentaram, à boca pequena, de um caso que ela teve com um professor, e que foi prontamente abafado pela diretoria do estabelecimento. E, agora, vinha ela querer dar lição de moral como se fosse a mais santinha das mulheres. Ora, faz favor, reagiram as outras! Como ainda, havia um tempo para continuar a comemoração, resolveram disputar um torneio de buraco.
- Cléa Magnani
Algumas das senhoras abanavam-se com os guardanapos de papel, enquanto J. Lin voltava do seu quarto, onde foi se recompor depois da dança. Outra rodada de Vinhos e Cerveja, alguns bocados dos restantes do que antes compunha a farta mesa, e vamos ao Buraco! Alguém se lembrou de que jogo sem prêmio nem castigo, não tinha graça nenhuma. Então... Giselda, a que puxava a baderna do 3º Normal, que quase foi expulsa da 4ªB Ginasial por invadir a Clausura da Freiras, deu uma sugestão: - MENINAS, ATENÇÃO! Eu não vou jogar! Quem ganhar vai receber o prêmio que eu escrevi neste papel branco. E quem perder pagará o que está neste papel rosa. Certo? Marcelo e J. Lin, no sofá, recuperavam-se do frenesi tomando uma “loira geladérrima” e ainda tendo ataques de riso ao se recordarem do balé, quase convincente, e do strip-tease dele, que ambos apresentaram, e que, com o boato de que estavam namorando, justificaria as visitas que ela costumava receber altas horas da noite, sem que ninguém percebesse, pois como administrador, ele controlava o movimento do edifício. As partidas de Buraco iam se repetindo, até que Giselda gritou agitando os dois papeluchos! - THE GAME IS OVER!!! – Eulália, viúva havia 2 anos, a vencedora, pulou da cadeira agitada: - Eu ganhei!!! Quero meu prêmio!!! -, mas Giselda escondeu o papel... - E eu perdi... quero saber o meu castigo... - disse Guiomar debaixo dos seus 70 anos... Giselda subiu na cadeira e anunciou: - A vencedora... terá de dançar um tango com Marcelo, terminando com um beijo SEN-SU-A-LI-SSI-MO! A sala veio abaixo! UUUUU-HUUUUUU!!!!!! BEI-JO! BEI-JO! BEI-JO! E quem perdeu... disse Gisele olhando para a pobre Guiomar, que estremecia num misto de medo e emoção. – Você Guiomar vai ter de representar o que você quiser com o falo que Suzy trouxe... – Ganhadora e perdedora a postos, chamaram Marcelo, que quando soube do que teria de fazer, olhou com uma expressão indefinível para Eulália, para J. Lin, e suspirando disse: - Sorry baby, eu gosto é de homem, beijar mulher me dá um nojo... Então, ante a decepção geral, J. Lin também se revelou perante as ex-colegas de Colégio, dizendo que o J. do seu nome, não era mais de Janete, havia muito tempo ela era Jefferson. E que Marcelo era Mirtes. Os dois “namoravam” para evitar comentários. O final do encontro não poderia ter sido mais surpreendente! Todas, boquiabertas, pensando que a fofoca da semana seria o comportamento moralista de Maria Justina Mello de Albuquerque e Silva... agora essa bomba atômica! A festa acabou.... Então, Guiomar olhou para o “brinquedinho” com o que deveria se “divertir”, o devolveu para Suzy, dizendo com desalento: pois é amigas...
DE ILUSÃO TAMBÉM SE VIVE!
Alberto Vasconcelos, Aristeu Fatal, Cléa Magnani, Deomídio Macêdo