O convite de Herodes

Estando Jesus de Nazaré reunido com seus discípulos nas vizinhanças de Sebastia, na Samaria, foi procurado por um servo de Herodes Antipas, o qual chegou num císio romano puxado por dois cavalos e conduzido por um legionário. Como escolta, havia um outro císio, com o lugar do passageiro livre.

- Eu sou Deiotones, emissário do tetrarca - declarou ao desembarcar do veículo. - Qual de você é o Nazareno?

Os discípulos entreolharam-se, especulando sobre a validade de identificar Jesus perante estranhos potencialmente hostis, mas o próprio tomou a iniciativa, erguendo-se.

- Estão à minha procura?

O emissário fez uma vênia de cabeça perante o Mestre.

- Eu o saúdo, rabi, em nome do governante da Galileia e da Pereia. Estou aqui para conduzi-lo até Cesareia Marítima, onde o tetrarca o aguarda.

- Lamento, mas não me recordo de ter solicitado uma audiência com Herodes Antipas - replicou Jesus de Nazaré, braços cruzados.

Pedro, o pescador, adiantou-se para perto dos interlocutores.

- Pode voltar daqui, emissário. O rabi está com a agenda cheia!

Jesus franziu a testa, voltando-se para o apóstolo.

- Pedro, tampouco pedi a sua interferência na conversa; deixe-me ao menos saber por qual motivo Herodes Antipas deseja ver-me em sua capital.

Deiotones fez nova vênia de cabeça e ignorou Pedro, que calou-se, cara de poucos amigos.

- Grato, rabi. O tetrarca quer apenas conversar consigo, obter um pouco da iluminação que tem dispensado aos mais pobres desta terra...

- Notável! - Exclamou Jesus, descruzando os braços. - Como então, Herodes Antipas quer obter algo que o seu dinheiro não pode comprar?

- A mensagem que divulga, não é para todos? - Replicou o emissário.

- Decerto que é; para os que me seguem, de fato. Se o tetrarca efetivamente quisesse ouvi-la, teria vindo pessoalmente, não mandado me buscar.

- Mas o tetrarca é o governante destas terras; como súdito, não deveria obedecer ao seu comando? - Questionou o emissário.

- Se minhas pregações se referissem ao reino por ele governado, decerto que seria o caso. Mas eu falo de um outro reino, sobre o qual homem algum possui autoridade - contrapôs Jesus. - Lamento, mas não o acompanharei para Cesareia.

E o Nazareno deu por encerrada a conversa, retirando-se frustrado Deiotones e sua escolta. Ao verem a nuvem de poeira que acompanhava os císios retornando para a capital do reino, os apóstolos voltaram aos seus afazeres, tendo André, irmão de Pedro, aproximado-se de Jesus:

- Mestre, como sabe, fui discípulo de João Batista, antes de ti; não teria sido oportuno que aproveitasse a oportunidade de ir até a corte de Herodes e levar até ele a palavra de Deus?

O Nazareno olhou para o discípulo, e sorriu:

- Tudo a seu tempo, André. Este encontro de fato ocorrerá, mas não agora; e certamente, não em Cesareia Marítima. Ir à presença do tetrarca, neste momento, não serviria aos propósitos do meu Pai.

E tendo dito tais palavras, foi ter com os demais para que se preparassem para entrar em Sebastia.

- [06-02-2021]