BARATA DESCASCADA
No boteco conversava com Maria Quitéria, vizinha e amiga antiga. Eu estava precisando de emprego com urgência. Queria ganhar bem mais que o salário mínimo para saldar uma dívida.
--Você vai ganhar perto de dois mil reais. Só que você vai ter de aturar uma madame esquisita.
-- Então essa dona gosta de colecionar insetos? E é a doméstica quem limpa a sujeira desses bichos asquerosos?
Pensei um pouco e aceitei: “Pode falar com ela; Topo e começo amanhã”.
Foi muito difícil a minha adaptação, pois a colecionadora os espalhava por todo o quintal e até dentro de casa. Era um monte de caixas e caixotes com besouros, tanajuras, lagartixas e larvas de borboletas. Para meu horror descobri que juntava barata! Eram as suas “cucarachinhas”.
Trabalhei por lá só dois meses. Não aguentava mais conviver com a mulher e seus animais de estimação Que nojo!
Estavam novamente em outra birosca contando as minhas desventuras para Quitéria.
--Antes de sair do emprego fiz uma feijoada incrementada e coloquei todos os ovinhos das baratas no feijão. Quase desisti, mas achei que era um castigo merecido. Só fiquei com receio que o caseiro comesse e lhe contei.
--Ah! Então foi você mesmo? A sua ex-patroa adorou a tal feijoada. Hoje é seu prato predileto. Acha bem melhor que comer farofa com tanajura!