A cadeira de balanço
Ao cair da noite, nos hospedamos numa pequena pousada, ainda no estado de Nova Iorque, em nosso caminho para Hartford, Connecticut. Minhas acompanhantes, a Sra. Alma Strachan e sua filha, Etha, exultaram ao ver que o salão principal estava provido de meia dúzia de cadeiras de balanço.
- São deveras relaxantes! - Aprovou a Sra. Strachan. A jovem Etha bateu palmas.
As refeições seriam servidas no salão de jantar, e após nos registrarmos e levarmos nossos pertences para quartos no andar superior (as Strachan dividindo um mesmo aposento, como seria de esperar), nos reencontramos naquela exposição ao curioso e enervante hábito que os continentais têm de se balançar nas tais cadeiras.
- O Sr. Ornery deve escolher a melhor das cadeiras - sugeriu a Sra. Strachan.
- Nada mais justo - aprovou Etha.
Levei a mão ao peito e fiz uma vênia de cabeça.
- Aprecio a preocupação da senhora e da senhorita pelo meu bem-estar, mas enquanto cavalheiro, penso que seria melhor sentar-me numa cadeira comum.
- Mas o senhor PRECISA relaxar, - insistiu a Sra. Strachan - após todas aquelas horas a cavalo, enquanto nós podíamos apreciar a paisagem em nossa caleche!
Naturalmente, eu teria preferido fazer a viagem no conforto da carruagem, mas a lotação de quatro passageiros já estava completa, incluindo o casal Myles e Albertina Commins, que haviam aproveitado a parada para visitar parentes na região.
- Mesmo assim, vou declinar do gentil convite - redargui, sentando-me numa cadeira estofada de espaldar reto, assento de couro gasto, que rangeu ao peso do meu corpo.
A dona da pousada, que havia entrado no salão para nos chamar para jantar, sorriu ao me ver sentado ereto na cadeira, enquanto as Strachan balançavam-se alegremente em seus assentos.
- O cavalheiro é inglês, eu presumo? - Indagou ela.
- De fato - repliquei, braços cruzados. - É algo assim tão evidente... além do meu sotaque?
- O seu sotaque e a sua recusa em sentar-se numa cadeira de balanço, falam por si só - espicaçou a proprietária.
Pensei em lhe dar uma resposta à altura, mas concluí que não valia a pena entrar numa querela por um assunto tão pouco digno.
- Quem sou eu para criticar os hábitos nativos? - Repliquei de modo sardônico. - Que cada um proceda como a sua cultura melhor determinar; eu, sou apenas um observador.
Ergui-me da cadeira, e voltando-me para as Strachan mesmerizadas, acrescentei:
- Senhoras, saiam do seu transe; o jantar está servido!
- [04-02-2021]