Pobre e preto sem preconceito
Na histórica cidade de Penedo, conhecida como "Capital do Baixo São Francisco", onde trabalhei na CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, tive um colega negro que, no dia 13 de maio, ele próprio lhe concedia o feriado. Nesse dia, chegava pontualmente no horário, assinava o ponto e dizia: "hoje não trabalho para nenhum chefe ou patrão, porque, graças a Princesa Isabel eu sou um funcionário público federal". Soltava aquele sorriso aberto, mostrando seus impecáveis dentes brancos, dava tchau, até amanhã, e saía todo satisfeito, sem nem ouvir qualquer resposta do chefe ou de outros colegas.
Em seu setor de trabalho, brincava muito com seu colega, um pouco mais idoso, que dizia ter um irmão Senador da República, que depois foi Ministro do Supremo Tribunal Federal. Sendo o colega um cidadão de cor branca e de uma família relativamente de alto nível, mais um motivo para ali sentir-se privilegiado, porque naquele setor as funções eram iguais. Era realmente uma pessoa cordial, brincalhona, principalmente com seu colega mais próximo, que um dia, ao levantar a camisa, mostrou que no lugar do cinto usava um cordão de barbante. Chamou os outros colegas e, apontando para o irmão do senador, exclamou: "como pode, um funcionário público federal, irmão de um senador, de um ministro do STF, em plena repartição pública, usando um barbante no lugar do cinto?"
E o colega, na esportiva, respondeu: "rapaz, não é que passei ali no mercado e quando perguntei o preço do cinto, me assustei?" E disse o valor que não era tão alto, pois o "pretinho" usava um melhor.
A última vez que estive em Penedo, fui ao bairro onde ele morava, e me asseguraram que ele ainda estava vivo, mas morando em Aracaju. Alguns poucos anos mais do que eu, diferente do irmão do senador, mais idoso, que já foi para a outra dimensão. Teve um colega que lhe propiciou boas risadas no ambiente de trabalho. O pretinho cheio de gratidão à Princesa Isabel.