A ROSEIRA

Leandro e Matilde estavam com 52 anos de casados. Uma vida de altos e baixos; mais baixos do que altos, na verdade. Criaram seus cinco filhos no interior, até que a vida foi ficando cada vez mais difícil...

Então decidiram vir para a Capital, onde haveria oportunidades para os filhos estudarem, trabalharem, e, com a ajuda de Deus, conseguiriam cuidar da família. O que de fato aconteceu, com muito trabalho de todos.

O tempo passou, os filhos cresceram, se formaram, todos trabalhavam, casaram-se, os netos chegaram, e o casal nunca conseguiu ter a sua casa própria. Sempre inquilinos, à medida em que o aluguel aumentava, ou algum filho se casava, acontecia uma nova mudança, para uma casa menor, ou mais barata.

Depois do casamento do último filho, foram morar na cidade onde as filhas residiam, no interior. Mas logo pediram para a nora, esposa de seu último filho, que tinha herdado uma casa de seu pai num terreno grande, para que ela construísse um cantinho para eles, pois se entendiam muito bem com ela. E assim foi feito.

Na mudança do interior para a nova casinha, alguns meses depois, trouxeram alguns vasos de plantas que Matilde tinha no interior e cuidava com muito carinho. Entre as plantas que vieram com a mudança, havia uma roseira Chá, que já chegou com duas rosas abertas, de uma cor indescritível: Era uma roseira sem espinhos, e suas flores não eram brancas, nem amarelas ou rosa. Eram lindas! Os botões, nasciam de um rosa quase grená, que desabrochavam em pétalas creme/amareladas, com um fundo rosado... como eu disse, indescritível... e ao envelhecerem, as rosas iam ficando rosa até soltarem as pétalas ao vento. Era uma roseirinha mirrada plantada numa lata. que foi praticamente jogada num canteirinho ao longo do muro da divisa com o vizinho, enquanto aguardava que alguém a plantasse definitivamente no jardim da casa do filho. Mas o jardim havia sido muito reduzido para um segundo carro, e já não dispunha de espaço para mais nada... A lata com a mudinha ficou encostada no muro lateral da casa, e foi praticamente esquecida ali, a ponto da lata ser dissolvida pela ferrugem. no clima úmido da Capital. As raízes, livres da lata, aprofundaram-se na terra rasa do canteirinho construído sobre o antigo piso e se infiltraram pela beirada do muro indo alcançar o solo abaixo do contra piso.

Logo na primeira Primavera floresceram lindas rosas quase brancas, de um creme suave, que ao receberem a luz do sol, tomaram uma cor rosada, linda!

Os meses se passaram, novas floradas se abriram e ela foi ficando alí no canteirinho apertado ao lado da casa, protegido por uma cerca de ripas, a fim de que Princesa, a velha Pastora Alemã de seu neto não cavasse a terra e arrancasse as mudinhas “de quase tudo” que ia nascendo ou sendo plantadas no canteirinho. A tímida plantinha tornou-se um arbusto e nunca mais parou de florir. Quando arranjava um tempinho, a nora podava todos os ramos, numa poda descuidada, ela fica algumas semanas sem flor, como a recuperar forças. E assim que os primeiros brotos apontavam com suas folhinhas arroxeadas e verdes, já vinham com botões e novamente iluminavam aquele lado da casa com suas flores bi colores.

Nove meses depois de estarem na nova casinha Matilde faleceu. Leandro parou no tempo. Não achava mais graça em nada... Até que ele conheceu Dona Rosália. viúva do segundo marido, e que o fez remoçar.

Iam a bingos, bailes da 3ª idade, shoppings, Mac Donald, pintavam o caneco!

Os filhos não aprovavam, visto ela ser casada e separada e, pelo que se dizia, “muito fogosa”.

Leandro porém, assim que podia, dava uma escapadinha e lá ia à casa de dona Rosália, onde os dois passavam as tardes “jogando baralho”...

Certo dia, Leandro resolveu trazer Dona Rosália para conhecer sua casinha. Entraram como se fossem duas crianças “fazendo arte”, olhando para os lados, desconfiados. Ficaram pouco tempo ali, apenas o suficiente para Dona Rosália matar sua curiosidade em conhecer a casa do “namorado” e atiçar o descontentamento da família, principalmente do filho.

A entrada para a casinha, era por um corredor ladeando o muro do vizinho, e ali numa jardineira, se encontra a roseira que pertenceu à Matilde e que agora era uma pequena árvore formando um arco sobre a passagem.

A planta estava coberta de rosas e botões como sempre, num festival de flores e cores.

Na manhã dia seguinte à “visita da velha senhora”, (acreditem !!!) a roseira amanheceu sem nenhuma flor. Todos os botões estavam dependurados, murchos, como se tivessem cortado as raízes da planta. As rosas todas desfolhadas, cobriam o quintal de pétalas cor de creme. Inexplicavelmente...

Dias depois, sua nora podou os galhos da roseira e ela voltou a se encher de flores, como se apresenta até hoje.

( Ah!... A tal dona Rosália nunca mais entrou ali...)

Mistéééério.......