Coronelismo no Sertão
Em muitas de suas obras, o escritor baiano Jorge Amado fala da força do coronel do sertão, principalmente no comando da política. "A vitória há de ser alcançada, no voto ou na bala". Mesmo nos tempos mais recentes, lá pelos anos 1970 e 1980, isto aqui ainda imperava. Numa cidade do sertão, ás margens do São Francisco, um deles ficou bem conhecido, pelos seus atos de "bravura", - entre aspas porque através de jagunços - sendo por isso, muito respeitado, ganhando várias eleições. Mas, apesar dessa "valentia", - também entre aspas - tinha fineza no trato, desde que não lhe pisasse nos calos. Homem gentil, simpático, conquistando votos não só pela bravura, mas pela sua maneira de ser agradável a quem não lhe ofendesse.
Assim, tendo amigos e inimigos, certamente teria de ter seus cuidados, contando com a devida segurança, até então "capangas".
Certa vez, ali chegou um funcionário transferido do Rio Grande do Norte, ainda sem a família, e, altas horas da noite, batendo-lhe a insônia, resolveu pegar o carro e dar umas voltinhas pela cidade. Indo sempre pelas ruas principais, passava inúmeras vezes em frente a casa do coronel, inocentemente, sem imaginar que estava despertando a atenção do seus seguranças. Assim, não custou a ser abordando por outro carro que o emparelhou e seus ocupantes pediram que parasse, para uma conversa. Então, a primeira pergunta ao motorista solitário: "o senhor tá querendo o quê?"
_ Não tou querendo nada. Apenas dando uma voltinha para me desparecer, porque estava sem sono e com muito calor, e aqui a rua tá fresquinha.
E se apresentou como um funcionário recém-transferido que viera trabalhar naquela cidade.
_Ah, então pode, respondeu o segurança.
E assim o funcionário viveu alguns anos naquela cidade, contando com a simpatia do coronel, porque no seu mister jamais iria pisar nos calos do coronel.
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