Aprígio Pereira de Lucena
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
UMA BOA AMIZADE É DE BOM!
Na minha “terra” investia um bom tempo a conversar com o seu Zé Batista, Ibanês, Ivan, murta, Mirô, Antônio Cego, Lidinho, Natanael Medeiros, Manoel da Costa, José de Souza, Joaquim Batista Cordeiro, Pernambuco, Cicero Sombra, Edson do Açougue, Cafubira...
Sempre amei uma boa prosa com as pessoas mais idosas.
Como o seu Aprígio viveu um período em Campos Belos (GO), lá nos conhecemos.
Nesse tempo tive a grata satisfação, uma alegria imensa de conhecer, ouvir alguns causos do seu Aprígio, pai do grande amigo Joaquim Barbeiro.
Era um homem alto, mãos enormes, forte (nada acima do peso) calvo, de cor clara, os olhos divergiam na cor, dos olhos do filho: eram azuis da cor do céu. Parecia bastante com o seu Joaquim e vice-versa; aparentava ter uns 78 anos.
NUM DOS NOSSOS ENCONTROS
Noutro encontro que tivemos carpia, plantava, cuidava das plantas que cultivou uns dias no terreno frente a casa do filho, à margem do Rio Ferreirinha que corta a cidade, a Rua do Comércio, o coração dos mais velhos ao lembrar que pescávamos, banhávamos, nos divertia nas suas límpidas águas.
AMOR PELAS PLANTAÇÕES!
Deu-me uma muda de jaca e ao achar não ter uma boa mão, o convidei a irmos a um lote que possuo no Bairro Buritis, para plantarmos juntos, a linda muda e assim o fizemos. Percebi o seu extremo gosto pelo cultivo da terra, o seu amor pelas plantações.
Falou-me algumas coisas sobre Pereira Barreto (SP) e outros lugarares por onde passou e viveu, que nem me lembro mais. O que marcou-me bastante foi a história do seu primeiro casamento. — Por certo contou esse fato a mais alguém.
UM BELO CONTO
Bem jovem ainda saiu de casa a procura dum trabalho no Estado do Pará, por lá trabalhou na extração da seiva (látex) da seringueira, numa floresta fechada.
Certo dia ao coletar o líquido valioso, esbranquiçado, viscoso da árvore afim ouviu um barulho por atrás de si e, sacou automaticamente a sua espingarda, presa às costas. Com a arma em punho, engatilhada mirou o alvo, mas não pôde apertar o gatilho: não sabia o que era. A luta se dava por trás duma enorme árvore caída que apodrecia aos poucos. Aproximou-se mais e os identificou: era um casal indígena, bem jovem.
Pasmado, temeroso do que poderia acontecer, ainda com a cartucheira apontada para os dois, não sabia bem o que fazer e fez o melhor: desengatilhou e baixou arma.
A luta continuava ferrenha, Aprígio aproximou o quanto pôde dos mesmos.
Pela sua força e disposição era capaz de imobiliza-los; um em cada mão.
A coisa era sério, uma luta de vida ou morte, pelo jeito.
O índio ao tentar dar um golpe fatal na moça, o Aprígio entrou em ação: e imobilizou o silvícola; acabou ali a questão, a briga.
A índia tentou explicar algumas coisas, mas nada era entendido por Aprígio.
FORAM OS TRÊS, AO CACIQUE
O grande chefe ouviu os irmãos índios, o Aprígio só via e ouvia a conversa, sem entender nada.
A verdade fora contada pela índia e a razão dada ao jovem branco; bem como a liberdade de ir embora ou ficar.
AMOR À PRIMEIRA VISTA
Aprígio não pôde retornar à civilização do homem-branco por um bom tempo.
Soube que o amor daquela índia por ele nascera no seu trabalho, no dia da briga ao pé da seringueira.
Ao saber de como tudo aconteceu passou a amá-la de uma maneira nunca vista, naquele ermo de mundo.
SALVO PELO AMOR
O índio que estava na companhia da índia era o seu irmão; ao vê-lo na coleta da seiva da seringueira, quis flecha-lo. Quase a disparar a flecha, ela atracou-o pelo meio, com arco e tudo, com as forças que tinha e não deixou o pior acontecer.
UNIDOS PELO AMOR
Parece que na etnia indígena não há uma restrição quanto a união matrimonial dum membro da aldeia com o homem civilizado.
Então uniram um coração ao outro e viveram felizes;
No início tudo que o Aprígio possuía, estavam numa mochila velha. Coisas de alimentar-se no seu trabalho na floresta. Ao ver o que havia dentro da mesma, viu farinha, carne de sol, de charco, uma saca de sal… Não pensou duas vezes, o jogou numa Lagoa que havia junto à oca. Ficou muito contrariado, aborrecido com a sua atitude.
Não foi fácil acostumar, com a culinária dos povos indígenas, além das iguarias, sem o sal pior ainda.
IA CHEGAR GENTE NOVA NA ALDEIA
A vida dum casal sem filhos, por muito tempo, é vazia, monótona; em nada há muito sentido, graça... Pensavam na possibilidade de ter um garoto(a).
Um dia a alegria veio, invadiu a oca e ficou por um pouco de tempo, nos seus corações: um filho iria chegar, a esposa estava grávida!
Passaram-se os nove meses e os assuntos só giravam em torno da chegada do curumim na comunidade.
DESÍGNIOS DO DESTINO
Para a tristeza de todos; do Aprígio da esposa, da aldeia: no dia e hora do parto morreram mãe filho!
Aprígio perdeu a cabeça e vida, não havia mais sentido para ele viver naquele labirinto de tristeza e desilusão .
Numa madrugada fugiu da aldeia e nunca mais voltou.
UM NOVO AMOR
Num retorno às terras pernambucanas casou-se na sociedade em que viveu, com Maria Ferreira Bonfim e foram muito felizes.
*Nemison Vieira
Acadêmico Literário.
(21:01:21)