ARAPUCA FECAL
Lá pelos idos do final da década de 60, morávamos em uma rua sem qualquer tipo de pavimentação e que também não tinha rede de esgoto.
Na ocasião as crianças e jovens brincavam nas ruas, brincadeiras essas as mais rudimentares e variadas (rouba bandeira, futebol, bem-te-altas, queimada, tico-tico fuzilado, garrafão, bolinhas de gude, finca, papagaios etc.)
Certa tarde, um dos nossos colegas, de codinome Bijuca, havia armado uma arapuca com um chapéu velho e que fora descartado pelo seu pai.
Quando o passarinho estava para entrar no dispositivo, uma senhora saiu para estender roupa no varal, espantando a pequena ave.
Evidentemente que o Bijuca ficou possesso e prometeu sujar a roupa da vizinha toda.
Como uma forma de recompensa pela perda da pretensa presa, logo lhe veio à cabeça pregar uma peça em um dos meus irmãos - o Kika. Colocou o chapéu sobre um monte de cocô e simulou ter apanhado um passarinho. Aos gritos, chamou o meu irmão para que ele segurasse o chapéu, enquanto ele ia correr em casa para buscar uma gaiola.
Foi bem ligeiro e retornou apressado com a gaiola na mão. Ao se aproximar, disse afoito para o meu irmão: “levanta o chapéu devagar e pega o passarinho bem firme. NÃO DEIXA ELE ESCAPAR.”
Dito e feito: um tanto quanto nervoso e trêmulo, o Kika enfiou a mão por debaixo do chapéu e apertou com gosto o monte de merda, que se lhe vasou por entre os dedos.
Indignado e enojado, ele saiu raspando a mão na terra e nas gramíneas do solo para se livrar do fétido, grudento e nojento dejeto humano.
É claro que eu, um outro colega nosso - o Renato "da Nilsa" e uma vizinha - a Aparecida “do Domingos”, testemunhas oculares, embora com asco, caímos na gargalhada, deixando-o ainda mais revoltado.