OS MISTÉRIOS DAS LENDAS AMAZÔNICAS
OS MISTÉRIOS DAS LENDAS AMAZÔNICAS
– A BOIÚNA –
“‘Contos Amazônicos’”
Autor: Moyses Laredo
Na verdade, tudo na floresta Amazônica é complexo e misterioso, ninguém, até mesmo os caboclos mais vividos, nascidos e criados nela, nunca sabem tudo a seu respeito, o que de estranho aparece misteriosamente para alguns, não é contado, porque ninguém tem a coragem de revelar, pra não ficar mal falado, ou, com algum apelido, entretanto, depois de uns goles bem dado de cachaça, o miolo amolece, acabam contando tudo, quem acredita em bêbados?
As verdadeiras lendas foram criadas pelos índios a partir das aparições. Eles que foram os primeiros habitantes nestas paragens, sabem de coisas que até Deus duvida. O interessante é que os indígenas, são bastantes diversificados em termos de crença, não creem em ídolos ou qualquer outra coisa material que lhe impunham à frente, acreditam que a mata possui vários guardiões, ou deuses, como, das águas, das cavernas, das árvores, dos céus, dos bichos, etc. contudo, não existe em seu entendimento, uma única entidade que congrega todos os guardiões, assim, possuem famílias de deuses, como, Tupã, ou “Espirito do Trovão, Jaci a deusa filha de Tupã, Guaraci marido de Jaci, Anhangá o protetor dos animais, Akuanduba, que enquanto toca sua flauta, harmoniza o mundo, Sumé, Deus das leis e das regras, Ceuci, deusa das moradias e Yorixiamori com seu canto, enfeitiça as mulheres, fonte Os principais deuses indígenas da cultura brasileira (r7.com).
Quem viaja pela Amazônia, conhece a lenda da Boiuna, “Mboi-Una", Mboi, de "cobra” e Una, de "negra" (cobra negra em Tupi), ou cobra grande para a maioria, sabe-se que seus olhos tem reflexos que parecem ao longe, como grandes holofotes de embarcação, muitas vezes, atraem pessoas e barcos, para em seguida serem naufragados e devorados. Quando se movimentam, mexem com o subsolo, criando grande rachaduras ou fendas nas terras. Contam que uma igreja no interior, que fora construída no beiradão, foi abaixo inteirinha, com uma simples mexida de sua cauda. A verdade foi outra, é o fenômeno das “Terras Caídas” que vez por outra ocorre nos beiradões, fazendo desabar grandes volumes de terras nos barrancos. Outros, dizem ter tido encontro com ela, a Boiúna, e escapado por um triz, há algumas fases da Lua, em que nenhum pescador se atreve a sair para o rio à noite, teve um grupo que pois por duas vezes foi seguido depois de avistado uma Cobra-grande... “pelos olhos que alumiavam como tochas”. Os pescadores foram seguidos até a praia, somente escapando, porque o corpo muito grande da cobra, encalhou na areia, ela ficou se contorcendo para escapar e com isso atrasou o ataque, dando tempo para os coitados fugirem. Esses mesmos pescadores, ficaram doentes de pânico e medo da experiência que relatavam com real emoção. (Eduardo Galvão, Santos e Visagens, Brasiliana, São Paulo, 1955).
Uma dessas histórias, é contada por um regatão, que depois de um dia inteiro de navegação e paragem em vários lugares, atracou num beiradão já à boquinha da noite, para preparar sua bóia, viajava ele e o mestre arrás, velho conhecido dele e conhecedor dos rios da Amazônia. Sabemos que a visão do rio, se altera de conformidade com a cheia ou vazante dos rios. Uma coisa é você gravar a imagem de uma frondosa árvore na seca, como referência, depois, não a ver mais devido a cheia, o rio, em determinadas partes, as águas sobem até 15 metros, engole todas as referências que você gravou, daí o conhecimento de quem viaja nos rios, não é como andar na cidade, em que você marca uma loja, um prédio, uma praça, depois reconhece tudo na vinda, por onde passou.
Com a boia pronta, sentou-se na amurada do batelão, e se atracou com a velha cuia feita de coité, dentro tinha jacuba (bebida feita com água, farinha de mandioca e açúcar) e um pedaço de guariba seca. Estava “intertido”, no silencio já da noite comendo sua comida, quando subitamente, ouviu por trás de si, um expiração forte, seguida, por uma inspiração rápida e sibilante, lembrou-se do seu pai, ele lhe contava muitas histórias das lendas Amazônicas e uma delas falava de uma tal de boiuna, que suspirava assim mesmo quando estava em cima de pegar suas vítimas. Sem olhar de onde partia tal ruído ameaçador, se jogou, para dentro do batelão, caiu por cima de uns fardos de juta, mas ainda deu tempo pra ouvir a esparramada d’água por trás dele, foi o mergulho da boiuna ao voltar para o rio, o barulho foi igual a uns três pesados fardos de juta, dos que transportava, caindo de alguns metros dentro d’água. As ondas subiram ao ponto de vir bater no casco e banzerar o batelão.
Para o mestre arrás, já nos altos dos seus 60 anos de navegação pelos rios da Amazônia, assustado, disse-lhe que a boiuna, já devia estar seguindo a embarcação, esperou pacientemente a oportunidade certa, para dar o bote, o ruído que ouviu primeiro, foi o do vento expelido de suas narinas, (expiração) do ar cansado que estava retido, em seu pulmão esquerdo, o maior, (o outro é atrofiado) do seu longo mergulho, e o sibilo rápido que ouviu em seguida, era o novo ar entrando (inspiração). Depois disso, vinha o mote certo para prendê-lo com os dentes, enlaçá-lo e arrastá-lo para as profundezas do rio, onde jamais seria encontrado, enquanto dessem conta dele, já estaria percorrendo o seu longo e comprido estômago, sendo digerido lentamente pelos poderosos sucos gástricos, coisa que levaria uns dois meses, à proporção que descia em direção ao extenso intestino, o que sobraria dele ao final da digestão, iria certamente para algum lugar no fundo do rio. O velho marinheiro que já conhecia essas histórias, das muitas e longas viagens que fazia por aquelas paragens, disse que nunca se sentava na amurada de um barco, principalmente à noite, temendo ser puxado por uma cobra grande, contou que muitos pescadores, simplesmente desapareceram sem deixar vestígios e seus corpos jamais foram encontrados.
Em todo Brasil, existem histórias sobre a lenda da cobra grande, cada qual ao seu modo.
Em Belém, há uma velha crença de que existe uma cobra-grande adormecida embaixo de parte da cidade, cuja cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal cobra-grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré: é o percurso da tradicional procissão do Círio de Nazaré, com 3,3 quilômetros de extensão. Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor de terra na capital paraense, dizia-se que a tal cobra havia se mexido. Os mais folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de lá!".
Em Roraima, conta-se que Cunhã Poranga ("índia bela") apaixonou-se pelo rio Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna. Como ela tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de seu amado rio Branco.
Entre as populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas, acredita-se que quando uma mulher engravida de uma visagem, a criança fruto desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra-grande.
Há quem acredite que a cobra-grande pode nascer de um ovo de mutum.
Segundo uma lenda mais comum no Acre, uma cobra-grande se transforma numa bela morena nas noites de luar do mês de junho, para seduzir os homens durante os arraiais de festas juninas, como se fosse a versão feminina do boto.
O folclorista Walcyr Monteiro conta que em Barcarena (PA) existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra-Grande", atração turística do local.
Misabel Pedrosa diz que a Cobra-grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de Marajó.
Fonte: (https://fantasia.fandom.com/pt/wiki/Boi%C3%BAna.
E por aí vão as lendas, mas uma coisa é certa, onde há fumaça sempre há fogo. Nenhuma lenda pode perdurar tanto tempo sem que nunca tenha sido comprovada, se fosse coisa de poucos lugares, seriam tratadas como folclórico, mas, o fato é que, em vários Estados, acontecem histórias de cobra grande, cada uma com o seu cada qual, como dizia uma velha amiga.