UM CONTO DE NATAL

UM CONTO DE NATAL

Era véspera de Natal e o casal trafegava de carro por uma estrada até então desconhecida. Carlos dirigia com bastante cuidado, mas com certa urgência. Afinal, ele precisava chegar a tempo em seu novo trabalho.

Já bastante experiente em sua profissão, resolvera de comum acordo com sua mulher mudar-se para uma cidade pequena, sem os inconvenientes de uma metrópole, embora soubesse que iria encontrar dificuldades, ele que fora criado em cidade grande. Contava com Dirce sua mulher, que vivera a infância em uma fazenda e certamente o ajudaria na adaptação. A viagem era longa e a via agora era de terra batida.

O sol, antes bastante forte, como que por encanto se escondera e nuvens ameaçadoras pairavam no céu. De repente, relâmpagos riscaram o ar e a chuva surgiu com força. Uma ponta de medo tocou o coração de Carlos. Não conhecia o caminho, a chuva ficou ainda mais intensa e a noite se aproximava. Estava mais escuro e os seus olhos estavam irritados e cansados de observar o caminho, para desviar de buracos e para não derrapar. Toda a atenção era pouco.

De repente um imprevisto, ouviu-se um ruído, o carro perdeu o controle e saiu da estrada, numa derrapagem incontrolável. Seu pneu havia estourado e o carro caíra numa vala. Nesse momento, a chuva aumentara e o dia escurecera. Nas condições, não haveria possibilidade de sozinho trocar o pneu e tirar o carro do valão. Sem ajuda, seria difícil sair dali. O lugar era deserto e ele estava exausto, tanto quanto Dirce. Chovia muito e ele adormecera.

Carlos acordou com um ruído vindo da janela do seu carro. Um homem muito molhado, de chapéu e barba, batia com o cabo de uma enxada no vidro lateral. Receosamente, baixou o vidro e encarou o homem.

Ele falou : - Vosmecê precisa de ajuda? Eu vi o seu carro rabear.

Refeito do susto, Carlos respondeu: - Claro. Você caiu do céu. Poderia me ajudar?

- Estou aqui para isto. Vamos ao trabalho. Auxiliado pelo estranho, Carlos em pouco tempo pode seguir viagem. Agradeceu a José e lhe ofereceu carona , a que recusou alegando morar perto de onde estavam. A chuva se transformara em pingos esparsos e a viagem transcorreu tranquila até o seu destino. Apesar do imprevisto, conseguiu chegar a tempo de descansar e de assumir o seu cargo.

José acabara de chegar em casa e encontrou a sua mulher Vilma prestes a dar à luz ao seu primeiro filho. Não havia tempo de descansar, precisava levar sua esposa ao Centro Médico da cidade próxima. Ela chorava com as contrações e José se preocupava com ela. Conduziu a futura mamãe até a carroça e partiu rapidamente. A estrada ruim e o cavalo velho tornaram a viagem mais demorada. Ao chegarem ao posto, Vilma não controlava mais as dores. Esbaforido, José entrou e nem reconheceu o médico sentado à sua frente. Tratava-se de Carlos, que assumira o controle médico do posto e estava ali para ajudar ao casal. Nasceu um lindo menino, forte e saudável, que a partir daquele instante atendia pelo nome de Carlinhos, em homenagem ao “doutorzinho”.

Carlos jamais supôs que iniciaria essa nova etapa de sua vida com um acontecimento tão inesperado e tão agradável. Carlos e José compreenderam que a solidariedade, de uma forma ou de outra, sempre retorna a nosso favor. Para ambos foi a noite de Natal mais bonita e mais feliz de suas vidas.

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Enviado por ABC DAS LETRAS em 02/01/2021
Reeditado em 05/01/2021
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