A VACA DOROTEIA
Minha primeira incursão pelo mundo da pecuária foi curta mas bem sucedida e prazerosa.
Quando meu irmão Beto casou-se, foi morar na pequena chácara que papai havia comprado poucos anos antes, na localidade de Roseira, a 25 km de Curitiba, no município de Campina Grande do Sul.
Beto nasceu com vocação para o trabalho no campo e o cuidado com os animais, como eu. Está no sangue. Viemos do interior, nossos avós e tios se dedicaram e muitos parentes ainda se dedicam à agricultura e pecuária.
Depois de algum tempo na chácara, nós a víamos bem cuidada, com plantação de milho, feijão e mandioca, horta, muitas galinhas, tanque com peixes e pequenos reflorestamentos de araucária e pinus. Um brinco!
Assim, tive a ideia de presenteá-lo com uma vaca, não sem antes consultá-lo sobre essa possibilidade. Mostrou grande interesse e ficou deveras entusiasmado, tratando logo de aprender a tirar leite. Dentre os animais criados pelos pequenos produtores da vizinhança, escolheu uma terneira holandeza de boa linhagem e porte, que compramos e levamos para o sítio. Dei-lhe o nome de Doroteia que assim passou a ser chamada carinhosamente por todos da família, inclusive pelas duas pequenas sobrinhas que lá residiam e que logo se afeiçoaram à dócil vaquinha.
Por alguns anos Doroteia forneceu leite para a família da chácara, para os avós, para meu marido e eu. Sempre que possível alguém trazia uma vasilha grande com alguns litros desse produto fresquinho para nosso deleite.
Doroteia cruzou com touros da região e deu bezerros bonitos e saudáveis, porém, quando as duas sobrinhas terminaram as primeiras séries escolares na Escola Fundamental mais próxima, meu irmão teve que mudar-se para a cidade a fim de que elas prosseguissem com os estudos e, forçosamente, tivemos que vender nossa querida Doroteia.
Foi uma tristeza só vê-la partir. Quando o comprador a levou, ficamos silenciosos na porteira até que não pudemos mais vislumbrar suas grandes manchas pretas após a curva da estrada.