O HOMEM DE APELIDO ESTRANHO
Um dia, por volta das 14h00min, um grupo de garotos do lugar se divertia e tomava banho nas águas do rio Guaribas, rio aqui da minha região, num local mais ou menos fundo e próximo aos barrancos mais baixos e mais próximos do leito corrente do rio. Em virtude de o local ser deserto e rural, todos eles, num costumeiro mas feio hábito, estavam banhando despidos, pois deixaram seus calções, bermudas e camisas sobre uma grama comum verde (conhecida aqui como capim de burro) que contorna ali o leito fluvial. Naquele momento, um senhor, morador de uma localidade vizinha, e de apelido estranho, passava a pé pela estradinha que margeia a alta ribanceira do rio. Os garotos, impulsivos, em uníssono, gritaram o apelido do velho, e imediatamente se jogaram nas águas. O homem, então sem dizer nada, saiu do caminho, desceu lentamente a ribanceira, veio e se aproximou das roupas dos meninos que o apelidaram, provocando-o; e, para desespero deles, ali se pôs de cócoras, horas a fio na beira do rio, com suas roupas na mão, e sempre dizendo: “Vocês vêm! Vocês vêm! Um dia vocês vêm! Vocês vão ter que me respeitar, cambada! Ou, então, vão ter que ir embora pelados pras casas de vocês!”.
As horas passavam, e começava a chegar o entardecer; e a noite já se aproximava... E os garotos desesperados e supostamente arrependidos, choravam e pediam perdão, chamando o homem pelo seu nome verdadeiro. Aqueles meninos não podiam ir embora nus, despidos, pois além de ser proibido e feio, ainda correriam o risco de levar uma sova dos seus pais. Os meninos chorando e com medo, insistiam em pedir desculpa e perdão, e imploravam: “Seu Fulano, por favor... Seu Fulano!”. Sempre invocando o nome verdadeiro daquele homem que ali os castigava. E o senhor, que odiava seu apelido, aparentemente impiedoso naquele momento, insultava: “Agora vocês aprenderam meu nome, é? Engraçado, cambada!”.
Quando já ia anoitecendo, apareceu um outro homem do lugar, que, muito sério e moralista, pediu para aquele senhor devolver as vestimentas dos garotos. Mesmo chateado e sem querer, ele devolveu, e, assim, aqueles meninos puderam, finalmente, ir embora para casa, vestidos. Já era quase começo da noite.
Esse fato ocorreu há muitos anos.