34 - ÀS VEZES, O QUE É BOM, DURA POUCO
Geralmente, as pessoas emotivas ou não, tendem a acreditar naquele adágio português que nos ensina que "o que é bom, dura pouco”; e essa expressão tornar-se-á uma assertiva efetiva se ela for atribuida àqueles montantes de amizade ou de coleguismo que são cultivados em meio ao convívio diário havido entre pessoas de um mesmo grupo de estudo, ao final de um ciclo letivo, ou quando da saída de colegas de trabalho de uma empresa, em relação àqueles que ficaram. Em ambas as situações, com o perpassar dos tempos, esse convívio diário, por vezes, acabará por criar alguns laços de amizade duradouros e até de cumplicidade inesperados.
Por vezes, quebrar os elos dessas correntes, tornam-se tarefas quase impossíveis, a não ser que isso venha a ocorrer sem a necessidade de se ter que passar por momentos meio tristonhos que pouco queremos vivenciá-los, mas que se resumem naqueles instantes em que nos deparamos com uma situação que envolve um inevitável adeus nas nossas despedidas.
As pessoas, por razões diversas, evitam despedir-se umas das outras, mormente daquelas que lhes prezam sobremaneira e que, naturalmente, deixaram marcas inesquecíveis durante sua vida, mas isso nem sempre lhes é possível deixar de fazê-lo, em geral, por razões alheias às suas vontades.
Em suma: em algumas situações, o que poderá causar-lhes momentos de extremada emoção, que poderão marcar sensivelmente a vida de quem saiu e/ou de quem ficou no vácuo proporcionado pelo tempo, por vezes, é deixado de lado e aquele que está indo embora prefere sair pelas portas dos fundos, a ter de encarar o momento doloroso da despedida.
Billy Lupércio Daniel é uma dessas pessoas que nunca gostou de vivenciar os momentos que envolveram o adeus nas suas despedidas. Na qualidade de um ser humano de emoção contida, ele entende que quanto menos ensaio houver nessas horas, menor será a dor da partida; tanto do lado de quem foi embora, quanto da parte de quem ficou de molho, aguardando o eventual retorno de quem partiu, desde que isso realmente tenha ficado combinado entre as partes, que aquele “adeus” deverá ser entendido apenas e tão somente como um simples “até breve”.
Depois de vivenciar bons momentos entre colegas e professores da CNEC, enquanto esteve estudando por um período de quase dois anos, Billy decidiu por conta própria que não ficaria por mais tempo na sua cidade, acaso ele não pudesse dar continuidade aos seus estudos, mesmo que para isso tivesse de jogar também para o alto alguns anos de um emprego, quase estável.
Sua obstinação pela continuidade de seus estudos, fosse ela na sua terra natal ou em qualquer lugar mais promissor fora dali, era uma meta que ele lutaria para atingi-la, parcial ou totalmente, durante toda sua existência, ainda que para isso ele tivesse de andar sobre brasas ou precisasse dormir sobre uma cama de espinhos.
Após participar ativamente como um dos ginasianos pioneiros daquela escola, durante o primeiro ano letivo, ele seguiu estudando a segunda série no ano seguinte e continuaria a fazê-lo nas demais séries restantes, não fosse a descontinuidade do projeto comunitário educacional em seu município; razões políticas e partidárias, alheias ao atendimento da vontade daqueles munícipes carentes de quase tudo, deixariam escoar pelos ralos da incompetência política e administrativa regional, os últimos fios de esperanças de seus jovens, sobretudo dos que não podiam sair dali para ir estudar noutro lugar.
Billy já estava decidido: como não poderia continuar estudando na sua cidade, por razões alheias à sua vontade, evidentemente, abandonaria tudo, inclusive o seu primeiro emprego, pouco importando o preço das dificuldades que se lhe fosse apresentado tempos depois.
A ele restaria apenas aguardar o passar dos últimos dias daquele ano letivo que se avizinhava do fim, para em seguida arrumar suas malas e seguir para outro lugar que lhe acolhesse a partir do ano seguinte e lá iria viver um novo ciclo de sua vida.