Fogo na moita
Sorrateira ela entrou no lote vago, avistou uma moitinha seca, um punhado de lixo, juntou tudo e ateou fogo.
Não imaginou que aquilo tomaria uma proporção gigantesca. O fogo rapidamente se espalhou por todo terreno. A mulher enlouquecida subiu na sua moto amarelinha e "deu linha" com medo das consequências.
Rapidamente entrou esbaforida em casa chamando pelo marido. "Corre lá que a coisa tá feia".
Lá vai o homem apressado. Se assustou quando viu a fumaça negra cobrindo o bairro inteiro. E de tão apressado nem tirou o capacete e foi cuidar do incêndio.
Os homens do boteco ao lado nada fizeram para auxiliar.
O pobre homem gordinho já suava em bicas quando se lembrou de tirar o capacete, ia a voltava mil vezes até a casa vizinha pra buscar num balde pequenino a água da máquina de lavar na tentativa de apagar o incêndio.
Ninguém ajudava. Nem um filho de Deus. Só se ouviam vozes praguejantes: "Tem que chamar a polícia". "Quem foi o infeliz que fez uma coisa dessas?" "Diabo de gente sem coração."
E o gordinho lá. Com suas intermináveis viagens, balde a balde até secar a máquina de lavar da vizinha. O fogo diminuindo, o bacon do gordinho queimando e as pessoas na rua assistindo e criticando.
Até que ele pediu "pelo amor de Deus uma mangueira, esse mês eu pago a conta de água."
Lá veio a mangueira, pobre, ressecada e abundante na esperança.
E o gordinho conteve o fogo. Suado até a morte evadiu rapidinho dali, solitário, humilhado e definitivamente julgado por todos.
Só queria sumir enquanto lá no íntimo celebrava sua vitória sobre o fogo.
Entrando em casa encontrou sua mulher deitada no sofá assistindo uma coisa sem importância, serena e confortável, sem a menor pinta de incendiária criminosa.
"Mulher como é que você faz uma coisa dessas? Me joga no fogo e nem vai me ajudar!"
Ela responde despreocupada: "conseguiu apagar?"