Algumas Lições...
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Duas coisas complicadas: tratar uma pessoa por um apelido que esta não gosta, e portar uma arma de fogo. — Há uns 70 anos, o uso de armas era liberado aos cidadãos.
As armas viviam expostas, vistas: nas cintas das pessoas; na cabeceira do arreio, da cama. Penduradas na parede da sala; no chão: atrás da porta… revólveres, espingardas, garruchas, cravinotes, carabinas, mosquetão...
Conta-se, que, na fazenda Alto do Barreirim, Sta Rosa da Serra, Chico Cabaça e Zuino Mandi, se estranharam e foram às vias de fato. — Após as troca de ofensas, se atracaram fisicamente e rolaram na poeira; fora socos e pontapés a se perder a conta...
Briga encerrada, cada um pprocurou o rumo de casa... Passado um tempo desse embate, se reencontraram e, a tragédia aconteceu...
Nenhum dos dois gostava do apelido que carregava. Chico Cabaça, sempre a andar com o seu revólver municiado até a tampa.
Dado dia e instante, precisou ir à venda que arrendara a um amigo, para comprar um açúcar e por lá encontrou-se com Zuino Mandi. — Com o seu inseparável punhal; que, mais servia para sangrar do que para cortar. Bebia umas e outras e batia com o mesmo, num velho balcão de madeira do comerciante.
Chico Cabaça puxou assunto...
— Zuino, que punhal lindo é esse?, quanto lhe custou?
— Custou 250 Réis e uma trela de cabaças.
— Esse revolver bonito na sua cintura, tenho medo não; quanto cê pagou por ele? — Reverberou Zuino.
— Paguei 550 Réis e dois ganchos de mandi.
Pronto: foi Zuino mencionar as 'cabaças' e Chico os 'mandis' incendiaram a fogueira…
Zuino foi para cima de Chico; este bateu a mão no revólver, pronto a botá-lo a 'cuspir fogo'…
A mirar o desafeto, acionava o gatilho sem dó, mas nada acontecia…
O tambor da arma do Chico Cabaça estava completamente vazio. — Ao prever acidentes com os filhos, ele mesmo havia removido a munição da arma.
Zuino o pegou à 'unha'. Imobilizado no chão, o Chico recebia panadas de punhal no rosto. — A ouvir Zuino dizer:
— Eu não lhe mato com esse punhal, ele é caro demais, só a uso de boniteza; merecia morrer com um punhal velho, enferrujado…
Acalmados os ânimos, Chico Cabaça desfeiteado, arrasado montou no seu cavalo e jurou:
— No dia que eu o encontrar novamente um de nós vai para o inferno.
Dois anos se passaram…
Chico Cabaça apeou do seu cavalo na mesma venda; Zuino Mandi estava de costas, Chico o pediu para que se virasse — não matava um homem pelas costas —, ao virara-se, Chico o desferiu seis disparos do mesmo revólver do embate anterior.
O Chico agravou o crime ao colocar os invólucros dos projéteis deflagrados na boca da vítima.
Julgado e condenado, o Chico fora sentenciado a 12 anos de prisão em regime fechado. — Seis anos pelo delito criminal; mais um ano de sentença por cada cápsula da arma!
Todos os anos os filhos do Chico saiam em penitências, numa via-sacra, com a folia de Reis local, a fazer promessas para o pai sair logo da cadeia. — Tocar a sua vida livremente ao lado deles.
Chico Cabaça ajustou um bom advogado e saiu da prisão; depois de cumprir oito anos do montante da pena.
Usar uma ama é complicado: ajuda a resolver um problema e gerar outro (s).
Se a pessoa não gostar dum apelido deve ser respeitada.
Se for um apelido carinhoso e o dono não se importar menos mal; tratar a pessoa pelo nome ainda é a melhor opção.
*Nemilson Vieira de Morais
Acadêmico Literário.
(20:06:19)