Meu Pai Salvou Uma Mulher

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Aquela mulher passava por dificuldades, que não soubemos precisar: ao achar a vida sem sentido à ela...

Queria comprar veneno.

Fora ao centro da cidade, ao armazém do meu pai (seu Natã) que, prontamente a atendeu.

— O senhor tem Aldrim-40? — veneno muito usado na década de 1970, nas lavouras, no combate ao carrapato... letal ao ser humano à sua ingesta. Posteriormente fora proibido seu uso e comercialização, por força de Lei.

Pelo semblante, a fala da mulher, o pai percebeu algo estranho mas, ainda assim disse que tinha o produto e ponderou:

— Para que a senhora quer isso?

— É para matar formigas, seu Natã. Pegue uma colher dele para mim. O dito produto era vendido em cx e, fracionado. Usava-se na gravimetria, uma colher.

O Pai mediu uma bem cheia e o embrulhou num papel-de-pão e deu à ela.

Ao chegar em casa, após tomar o veneno, não demorou muito, passou mal. A quebrar as coisas da casa...

Com urgência a levaram ao Hospital Regional de Campos Belos e foram feitos os procedimentos de praxes que o caso requer.

Mesmo em recursos médicos o desespero de familiares e amigos era grande: pelo receio de perde-la.

Numa altura dos acontecimentos o médico precisou conversar com os familiares…

Preocupados com o pior, correram a saber o que o doutor diria.

“A paciente não corre o risco de morte; não consta que tenha ingerido substâncias venenosas. O que ela bebeu não se sabe, veneno não foi.”

Quem bem soubera o que a sua freguesa ingeriu fora o pai. Anos após o fato em rodas de amigos, ao contar o caso revelava o que acontecera.

Ele havia vendido a mulher que queria morrer, a famosa ARARUTA (fécula de mandioca), semelhante à MAIZENA que as mães usam para fazer a papa das crianças.

*Nemilson Vieira de Morais

Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.