Aquí me quedo
Em vinte anos de magistério, ele nunca havia visto nada como aquilo. O pequeno Aimar, terminando o ensino primário aos 11 anos, já havia ultrapassado o conhecimento em matemática do próprio professor. Como a família de Aimar era muito pobre, o professor recomendou à direção do colégio que encaminhasse Aimar para uma avaliação no CEDAT. Para sua surpresa, contudo, os pais do garoto ficaram contra a ideia.
- Aimar não quer fazer a avaliação - disse a mãe com firmeza.
- Mas por quê? - Espantou-se o professor. - O CEDAT é o melhor lugar para onde uma criança superdotada poderia ir aqui no México! Lá eles oferecem condições para que ele aprenda ainda mais e possa ingressar numa boa instituição universitária!
- É melhor o senhor conversar com ele - sugeriu a mãe.
Aimar confirmou o que dissera a mãe e não pareceu particularmente motivado pela perspectiva de estudar numa escola de superdotados.
- Quanto menos eu aparecer melhor, professor - declarou o garoto de forma muito tranquila. - Para aprender mais, preciso apenas de uma boa conexão com a internet, e isso eu posso ter na escola regular.
E foi então que o professor entendeu que Aimar estava propositalmente restringindo a exibição do seu progresso; ele não queria, de fato, chamar a atenção. Exibiu um livro de cálculo diferencial e integral e perguntou se ele já havia visto aquilo. Aimar fez que sim e folheou o livro sem curiosidade.
- Achei melhor aprender cálculo antes de estudar ciência da computação. Para o que estou planejando, precisarei desenvolver novos conceitos em ambas as áreas.
- E, se posso perguntar, o que você está planejando? - Indagou o professor.
Aimar lançou-lhe um olhar divertido, como se dissesse "não acha que vou lhe contar, não é?". A resposta, contudo, foi um questionamento.
- O que aconteceria se o México tivesse um bom desempenho em matemática e se conseguíssemos que esses estudantes ficassem por aqui?
- Esse talvez seja o ponto, - avaliou o professor - reter os estudantes.
- Eu estou desenvolvendo uma plataforma de ensino - admitiu o garoto. - A maioria das crianças da minha idade acha matemática uma coisa chata, mas isso não precisa ser assim. E eu lhe sou muito grato por isso, professor.
A resposta o fez sorrir.
- Mas por que todo esse segredo? - Questionou.
Aimar ficou sério.
- Para onde vão os melhores cérebros do México, professor?
O mestre ficou em silêncio. A pergunta fora puramente retórica.
- Espero sinceramente que você tenha sucesso - disse por fim.
- [14-09-2020]