Osteossarcoma, milagres existem

Um caso muito interessante, foi o caso de Marcelo, aos 12 anos, que quando jogava bola conosco, sentia fortes dores no joelho, mas não dizia à sua mãe. Um dia, aconselhei-o:

— Marcelo, conte pra sua mãe, rapaz, essas dores em seu joelho. Vá a um médico!

— Não posso. Se eu contar, ela vai me proibir de jogar bola. - Disse-me o amigo.

Fiquei com pena. Em nossos babinhas1 de futebol, ele parecia que estava num paraíso, tamanha era o prazer, a dedicação e o sonho de se tornar jogador de futebol, mas tudo é como Deus quer e não como nós queremos.

Contei a minha mãe. A família dele era vizinha. Moravam à esquerda de nossa casa. Minha, mãe, é claro, não tinha como guardar um segredo desses. No mesmo dia contou à mãe de Marcelo.

No outro dia, nove horas da manhã, horário do babinha1, cadê o Marcelo? Perguntavam seus amigos conhecedores das dores do joelho, e previram que houve vazamento da informação.

Não assumi. Devia ter dito que, para o bem dele, contei a minha mãe que contaria, é claro, à mãe dele, mas fiquei calado. Ao invés de dizer aos outros, preferi esperar para em uma oportunidade, contar a ele mesmo. Éramos muito amigos e jamais eu o trairia. Contei para o seu próprio bem, justificava-me.

Dona Edna, mãe do Marcelo, oito dias depois, chegou em nossa casa com o resultado dos exames... Ela chorava muito e nos agradecia por ter contado, pois ainda poderia haver alguma esperança...

— O que aconteceu? - Perguntou minha mãe.

— Meu filho, Marcelo, está com tumores ósseos que são muito raros, doença conhecida como: osteossarcoma, sarcoma de swing e condrossarcoma. - Leu o laudo médico para nós, dona Edna. – Depois continuou nos explicandos:

— O Osteossarcoma é um tumor maligno formador de osso... Se manifesta, principalmente, na região do joelho, mas pode envolver qualquer osso. Ele também é conhecido como Sarcoma Osteogênico, o Osteossarcoma, tumor ósseo maligno, muito comum em crianças e adolescentes. A dor e o inchaço são os primeiros sintomas no local e piora, a dor, à noite. Essa doença pode se espalhar para os pulmões e outros ossos. A quimioterapia, primeiramente, pode evitar a amputação da perna. Ao contrário de outros tumores, a radioterapia não tem valor no tratamento destes tumores. O diagnóstico precoce ainda é o maior trunfo para a cura e preservação dos membros afetados.

A mãe de Marcelo desesperou-se. A família tinha condições para o tratamento. E Aqui no Brasil, após procurarem os melhores médicos, disseram: mesmo amputando a perna, ele só terá no máximo, cinco anos de vida.

Então, diante dessa circunstância, afinal, infelizmente, muitos que tinham essa doença acabavam por morrer porque a doença disseminava-se no pulmão, e, dessa forma, o câncer do osso era morte certa.

A mãe de Marcelo, desesperada, recorreu a Nossa Senhora de Fátima.

Fez uma promessa em concomitância com o filho que aceitou cumpri-la consciente de que uma promessa feita é uma coisa muito séria, principalmente depois da graça alcançada.

É melhor não prometer que prometer e não cumprir, leu Eclesiastes, e estava confiante. Assim, ser padre na vida adulta, caso fosse curado após amputar a perna, seria a sua contrapartida.

A família o levou para os EUA e Marcelo voltou com uma prótese.

Passaram-se cinco, seis, sete... Dez anos, e Marcelo, curado, virou seminarista e até hoje é padre.

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1 Babinha: termo usado na Bahia para designar uma pelada, jogo de futebol

* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "A Viagem de Cristal" de Osman Matos, publicado em 2017 pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso.