CHATO PARA COMER

O restaurante e pizzaria de Antônio Constanzo Brazzi ficava na esquina da Rua Velha com a Rua Tupinambá, bem no centro do Bairro Alto, mais conhecido como Cachorro Vadio por causa do grande número de cães sem dono que empesteavam as ruas com seus dejetos.

Acêbê como era chamado pela maioria dos frequentadores do local era um italiano grandalhão, com voz tonitruante onde se misturavam o idioma pátrio e o Português insipiente, muito agradável, de boa conversa, fácil de se fazer amizade, mas tinha o pavio curto, perdia a paciência e deixava o interlocutor falando só diante de qualquer indecisão.

Certa vez, hora de grande movimento, casa cheia, chegaram oito ou dez pessoas, talvez colegas de trabalho em confraternização no final de expediente de mais uma semana.

Cardápios distribuídos, primeiros pedidos das canecas de chope, garrafas de vinho ou refrigerantes e foram sendo anotadas as pizzas para a maioria, lasanha quatro queijos, ravióli com recheio misto, nhoque à bolonhesa para outros, mas tinha uma mocinha, talvez pela falta de traquejo ou mesmo para chamar atenção para si, virou e revirou várias vezes o cardápio sem que, aparentemente, tivesse decidido qual seria o seu pedido.

Alguns já estavam comendo e a mocinha ainda indecisa.

Acêbê já tomado pela impaciência resolveu auxiliar a pedida da moça.

Ofereceu os pratos mais corriqueiros, depois os “à la carte”, depois os especiais e nada parecia ser de agrado da criatura.

Com o rosto afogueado e falando em dois tons mais altos que o normal, o italiano Acêbê largou a pérola da noite:

Oh! Pazza ragazza, quem é chato per mangiare come tu, non lascia la casa della mamma.*

*Oh! Moça doida, quem é chato para comer como você não sai da casa da mãe.