O alojamento dos “macacos”

Um dia, Virgulino Lampião soube que um carpinteiro tinha feito um galpão todo de madeira para alojamento dos “macacos”, nome que dava aos soldados da volante policial militar que sempre estava em seu encalço...

Procurou o carpinteiro em toda a redondeza, pois não sabia quem era. Deduraram que era um homem que estava na feira em Ribeira do Pombal - BA, com a esposa vendendo castanhas de caju, feijão, milho e aipim...

Ao encontrá-lo, raptou-o imediatamente.

O bando partiu montado para o local e o carpinteiro foi andando acelerado bem ao lado da tropa...

— Se tentar fugir, eu mermo atiro! – advertiu o Rei do Cangaço.

E foram para o galpão de madeira. Ao chegarem, a ordem:

— É pra você derrubá esse galpão todim que tu fez! Mas né só pra derrubá, não! É pra você derrubá pelo lado de dento! É pra ficá dento derrubano, que é pro teiado arriá por riba de tu, seo peste!!! Cumé que tu aceita um negóço desse, seo cabra? Fazê galpão pra dá abrigo a peste de macaco!

— Mas pra derrubar, tem que ter um machado! – disse Seo Jovem, o carpinteiro raptado.

— Se vire! Vá arrumar um agora e ligêro!

Sêo Jovem viu uma casinha branca num morro ao longe e disse.

— Vou buscá ali naquela casinha dum amigo e já volto.

— Vai, cabra! Vá ligêro! Mas se tu num vortá correno eu mermo vô te buscá dibaxo de bala!

— Mas nesse sol quente que tá, num vai ser mole eu subir aquele morro a pé e ter que voltar correndo ligêro nesse calorão... Vai me dar muita sede!

— Tome esse cantil! - (jogou) - Aí tem quatro gole d’água. Traga três de vorta!

Seo Jovem saiu acelerado. Ao afastar-se bastante da tropa de cangaceiros, mudou o seu trajeto por um desvio que conhecia bem e escapou dessa, ileso.

E até hoje Lampião espera ele voltar com o cantil e o machado.