NÃO DEIXE O CORAÇÃO DIRIGIR SUA VIDA!

Aguinaldo era instrutor de autoescola, era um profissional dedicado, gostava do que fazia. Ele costumava levar os alunos para praticarem no local exato da prova. Sempre alegre e amigo de todos, Aguinaldo era motivado pela felicidade dos seus alunos que com muito sacrifício conquistavam o sonho de aprender a dirigir, a conquista da carteira de habilitação. Aguinaldo tinha uma vida tranquila, tinha acabado de se casar, estava vivendo em plena lua de mel com sua esposa Larissa, 20 anos mais nova que ele. A diferença de idade aparentemente não era empecilho. Os dois tinham ótima sintonia, até o dia em que houve ruído na comunicação.

Faltou ao casal focar na fé, olhar para o Autor do amor! Defeitos todos nós temos! Quando os olhos param de brilhar, a alma fica cansada, a rotina paralisa o crescimento do jardim. E foi assim!

A experiência de Aguinaldo unida à juventude e despojamento de Larissa parecia que eram ingredientes para que tudo desse certo... Mas não foi assim!

Aguinaldo achava que já sabia como conduzir um relacionamento, haja vista ter sido casado por quase 30 anos, e já ter filhos adultos.

Aguinaldo era bem fisicamente, apresentava um estilo jovial. Enfim, tudo se encaminhava para o êxito no relacionamento. Mas quando se leva a vida no piloto automático, caímos na armadilha de "já saber de tudo" e nosso caminho é cair naquilo que é óbvio, um pequeno buraco, um vazio que se nós não cuidarmos vira uma cratera, um profundo abismo. Aguinaldo como motorista ( instrutor de autoescola) bem sabe os danos que os buracos nas estradas causam aos veículos. Ensinava sempre aos alunos a desviar deles, ensinava também a diminuir a velocidade nas curvas, frear de leve para passar pelas lombadas. Aguinaldo deixava seus alunos no comando, mas caso eles errassem era necessário intervir.

Aguinaldo era acostumado a mandar, dar ordens por causa de sua profissão. Larissa foi sua aluna, o jeito meigo e frágil da jovem tocou seu coração. Ela era muito medrosa, mas mesmo com medo ela ia em frente. Aguinaldo era carinhoso e tinha muita paciência. A jovem disse que era muito humilhada pelos familiares que diziam que ela era apagada, devagar, não sabia fazer nada. Foi quando ela decidiu mostrar que era capaz e teve atitude, não ficou parada só ouvindo as vozes tristes do pessimismo e resolveu agir começando primeiramente a tirar a carteira de habilitação um sonho antigo. A jovem se mostrou muito esforçada! No início ela começou tímida, meio sem jeito, mas Aguinaldo a tratou com muito carinho e a fez se animar. Ela quase que deu ouvidos àquelas vozes negativas dos seus familiares, mas ela pensou, refletiu e chegou à conclusão que uma atitude vale mais que mil palavras, e tinha que mostrar atitude na vida. As pessoas tinham que olhar para a vida dela e ver mudança, mas não que isso fosse primordial porque não importa o que os outros pensam de nós, o importante é a gente agir, fazer a nossa parte porque tanto o fracasso como a vitória depende só de nós mesmos. E ela foi em frente, espírito de determinação, treinava a baliza e, em casa, fazia o exercício, uma simulação para fixar o aprendizado: pegava os seus batons para fazer de baliza, e com o carrinho de brinquedo do sobrinho fazia as manobras. Assim foi seguindo, não desistiu. Foi duro! Foi muito sacrifício! Mas enfim ela conseguiu tirar a habilitação. Todo este esforço chamou a atenção do instrutor, mas o sentimento de Larissa para com Aguinaldo era como se fosse de uma filha para o pai. Ela estava meio carente até por conta da autoestima em baixa. Enfim, havia uma confusão de sentimentos, mas Aguinaldo decidiu investir em Larissa. Andava muito sozinho, levava a vida fingindo ser feliz consigo mesmo ( aparência). Quando chegava em casa ele se deparava com a solidão.

E o jeito meigo e jovial de Larissa tocou seu coração!... O coração é enganoso, o coração vive de momento. Aguinaldo viu em Larissa aquela menina alegre, o instrutor lembrou de sua juventude quando conheceu Sueli, a mulher com quem foi casado por trinta anos, e que veio a falecer devido a um trágico acidente de trabalho. Este fatídico dia era o dia do aniversário dela, Aguinaldo tinha preparado um jantar especial.

Aguinaldo e Larissa... Conversa vai conversa vem... Muitas coisas em comum. Aguinaldo estava enfeitiçado, via na jovem a sua finada esposa, mulher que ele tanto amou.

Larissa, por sua vez, via no instrutor o pai Seu Felisberto, o único da família que acreditava na jovem. Seu amado pai Deus levou. Larissa idolatrava ele, dizia em sua adolescência que não havia homem na face da terra melhor que o pai. Aguinaldo a fez despertar, voltar à memória este carinho pelo pai. Mas Aguinaldo falou de amor e Larissa meio sem jeito de contrariá-lo, decidiu levar adiante aquela relação mesmo sabendo que aquele sentimento não era correspondido por ela. Era só amizade, mas ela resolveu ( até por conta do carinho de Aguinaldo) ir em frente com aquela relação. Larissa, tão maltratada em sua vida, tão ferida no coração resolveu repentinamente morar com o instrutor lá na vila onde ele residia em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Saiu da dor do seu mundo e foi conhecer um outro mundo, um mundo que ela acreditava que estava no caminho certo. Ela achava que poderia vir a gostar de Aguinaldo como um marido, e aquele pensamento de vê-lo como pai iria passar. Mas ela decidiu seguir este caminho, ela não aguentava mais ficar com aquela família, com os amigos que tanto a menosprezavam, e já Aguinaldo não, Aguinaldo era um homem que tinha um coração aberto, uma pessoa amiga!... Larissa foi tocada por este encanto! Foi morar com Aguinaldo. Não durou muito... As diferenças já começaram a aparecer. Um ano, até aí tudo bem!... Casaram, lua de mel, tudo nos conformes!... Um ano, um ano e meio... Larissa já começou a olhar os defeitos de Aguinaldo. Viu que ele na verdade era um homem bruto, um sujeito que gostava de mandar nela, queria controlar as amizades dela. Larissa era uma pessoa que gostava de sair, passear, afinal estava na flor da juventude. Aguinaldo já queria estar em casa... É isso tudo começou a fazer mal ao relacionamento. Larissa viu que não daria mais certo, Aguinaldo queria controlar os passos dela. Larissa ficou triste, deprimida, chegou ao ponto de querer se matar, " Como é que pode?!... Eu fui iludida! Aguinaldo, ele... Eu fui enganada pelo meu coração! Eu nem culpo Aguinaldo, o culpado é o meu coração! Mas eu não quero mais saber deste homem. " E decidiu sair. Aguinaldo chegou em casa após mais um dia de trabalho lá na autoescola, e viu que Larissa já tinha se mandado, tinha ido embora. Aguinaldo que era um homem tão trabalhador, dedicado, gostava do que fazia... Passou a ser um instrutor rude, passou a tratar os alunos com ignorância. Num certo dia, ele se desentendeu com um aluno chamado Vítor. O rapaz era calmo, esforçado para aprender. Mas Aguinaldo não queria saber! O rapaz fazia tudo certinho, tudo como manda as leis do trânsito: dirigia obedecendo a velocidade permitida, parava no sinal vermelho...

Aguinaldo queria que o rapaz acelerasse sem necessidade, e quando Vítor fazia o que era certo, de parar no sinal vermelho, o instrutor fazia um ar de deboche " É isso né meu rapaz!... Parou né, sinal vermelho... O jeito é fazer o que é certo!"

Mas dentro dele não tinha mais paciência para ensinar. Pediu licença da autoescola a fim de esfriar a mente. Num dia chuvoso resolveu ir de carro em busca de Larissa, fez o trajeto em direção à Rodovia Presidente Dutra ( sentido São Paulo ), Larissa tinha uns primos lá na terra da Garoa. Chovia forte neste dia, e o instrutor, passando pela Serra das Araras, sofre um acidente. Derrapou na pista, aquaplanagem. Aguinaldo estava cansado de falar para os seus alunos sobre os cuidados para dirigir em dia de chuva, como evitar a aquaplanagem. Mas naquele dia estava fora de si, estava tomado pelo coração, agia sem pensar. Dentro do carro gritava o nome de Sueli, desesperado!

Lá na Serra das Araras Aguinaldo sofre o acidente fatal. Estava em alta velocidade em dia de chuva. Aguinaldo morre vítima do " coração enganoso" e vítima do acidente trágico automobilístico.

A história é triste porque quem vive pelo coração tem uma vida triste.

( Autor: Poeta Alexsandre Soares de Lima)