A ressaca da plantinha

Eduardo Catalão, em ano político eleitoral, fazia festas em sua mansão em estilo colonial, na fazenda do Rio do Braço, que produzia cerca de trinta mil arroubas de cacau. A Mansão tinha belíssimas obras de arte e uma adega fantástica, com vinhos finíssimos de “Pomerol (França), Bordeaux, Borgogne, de Montalcino, Toscana e de outras regiões famosas da Itália, além dos Rioja da Espanha, dos Tokay da Hungria. Cognacs e Champagnes, os mais famosos do departamento francês do Charrante, etc.1“ - E Whiskys envelhecidos em Barris de Carvalho diretamente da Escócia.

Convidou os comerciantes e alguns moradores de Rio do Braço que se interessavam por política e eram multiplicadores acostumados a ouvi-lo conversar sobre política.

Assim, Osvaldo Matos, Edvaldo Menezes, Zequinha Menezes, Sr. Alexandre, D. Quinha, D. Helena, Iracema Menezes, D. Marlene, Seo Jovem, D. Nilza, Gervásio Boaventura, Luiz Mendonça, Zelito (Calango), Lourdes e Socorro Henriques, D. Idalice e Laudelino, Vitório Braz, D. Cremilda, Ivan da Coelba, Regino, entre outros.

Os garçons vieram de Ilhéus para servir os convidados, um Buffet requintado com petiscos, comidas típicas, música e bebidas.

Nas rodas de diálogos, os garçons serviam vinhos ou Whisky. Seu Osvaldo Matos não bebia, mas, para não ficar fora das rodas de diálogos e não ser desagradável, na medida em que todos estavam conversando com um copo na mão, resolveu interagir e aceitou uma dosezinha de Whisky Escocês White Horse 8 anos.

Toda hora passava um garçom com as bandejas servindo as pessoas, e copo vazio, não ficava, um.

Lá para as altas horas, todos estavam falando demais, outros bêbados sendo conduzidos para outros cômodos da casa, outros falando embolado, e seu Osvaldo Matos, sóbrio.

Eduardo Catalão, observando os convidados, entre eles o prefeito de ilhéus, Antônio Olímpio, dirigiu-se até onde o mesmo estava, entrou na roda de diálogo e comentou:

— Veja, Antônio Olímpio, Osvaldo Matos, o Delegado, é um homem de personalidade forte. Já deve ter tomado uns dois litros de whisky escocês e é a mesma pessoa. É um homem que a gente pode confiar. Não fala besteiras, não embola a fala, não solta nada, mesmo sobre o efeito do álcool. É incrível!

No outro dia, após a festa, Dona Neuda, que trabalhava na mansão de Eduardo Catalão, foi à mercearia de Seo Osvaldo Matos comprar mais umas vassouras, sabão em pó, em pedra, água sanitária, enfim, material de limpeza em geral. E perguntou:

— Seo Osvaldo, o Sr. podia me arrumar um pouquinho de adubo, ou esterco de vaca ou de galinha? É que o meu caqueiro de "Comigo ninguém pode" amanheceu com as folhas murchas, eu não sei o que aconteceu. Ele é tão bonito! Estava até decorando o salão da festa ontem. Eu não sei o que aconteceu.

— Eita! Lamentou seu Osvaldo - Nesse caso acho melhor a senhora, ao chegar lá na mansão agora, molhar bastante. Aguar muito com a mangueira, pois ela pode estar com ressaca.

— Como assim, com ressaca?

— Dona Nelda, num festão daqueles, possa ser que alguém fazia que bebia e derramava a bebida no caqueiro...

— Quem faria uma coisa dessas?

— A senhora não sabe como é o ser humano? Agora quem fez isso, nem se ligou que podia matar a plantinha... Mas tem jeito. Ela está com ressaca. Vá por mim. Dê-lhe muita água e depois a senhora me diz.

— Ah, seu Osvaldo, muito obrigado! Por isso é bom a gente conversar com quem sabe das coisas...

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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "Rio do Braço" (Romance Histórico) de Osman Matos, publicado em 2015 pela Editora Mídia Joáo Pessoa, PB (LANÇADO EM 2016 NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS) e pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso, 2017.