O menino da Cruzinha
Lembrou-se também das tantas peripécias que fez para assombrar os peões das fazendas de cacau nas sextas-feiras, pois era o dia em que estes recebiam o pagamento pela labuta da semana, e vinham ao Rio do Braço fazer feira.
Pegou uma abóbora grande, tirou todo o miolo e fez dois olhos, um nariz em forma de triângulo e uma boca assustadora. Em seguida, fixou o artefato em uma estaca e acendeu três velas dentro: duas eram os olhos de fogo e a outra iluminava o nariz e a boca horrorosa.
Os cavalos e burros, quando passavam, levavam o maior susto, e muitos peões experientes caíam dos cavalos. Toda vez que chegavam em Rio do Braço, chegavam brancos de medo e com muita reclamação e queixas para o delegado.
Capistrano exagerou e disse na delegacia que ao cair do cavalo, o mesmo seguiu em disparada, e apareceu, em sua frente, um cachorro feio. Disse que meteu o biscó no danado, mas ele, ao receber o golpe, transformou-se num porco.
Deu-lhe outra facãozada e se transformou em um cabrito. Continuou golpeando, e, a cada golpe, o bicho se transformava em um animal cada vez maior. Quando virou um touro que fumegava fumava pelas ventas, pediu por Deus e a coisa explodiu e virou um fogo corredor que avançou roça adentro queimando as folhas de cacau.
Um dia, Cecílio resolveu fazer algo mais assustador: foi até a cruzinha, entroncamento para seguir pelo Jacarandá ou ir para Uruçuca via Rio Almada. A cruzinha era o túmulo de um menino que morrera atropelado ali há muito tempo. Ficou numa sexta-feira à noite escondido debaixo de um lençol branco...
Também fez um despacho no local, colocando uma galinha preta e um urubu sem asas, amarrado numa corda para não fugir, pó de pemba, pipoca, velas, entre outras macumbas, o maior panavoeiro.
Quando os peões das roças de cacau iam montados a cavalo para fazer compras em Rio do Braço, aparecia de repente o fantasma branco dizendo com uma voz rouca e tenebrosa:
— Eu sou o menino da cruzinha!
Todos corriam muito assustados e chegavam ao Rio do Braço brancos de medo e contando histórias. Foi aí que o destemido Pedro Cacau decidiu resolver o problema. Tomou umas doses de Catinguerinha, cachaça famosa no lugar, misturou com Bituri, Jurubeba, Indiana e outra de nome Caranguejo. Levou uma faca amolada, uma lanterna movida à pilha Rayovac, um crucifixo, um canivete dentro da bota, um chapéu de couro e água benta que pediu ao padre.
Ao chegar no local na sexta-feira e na hora da assombração, Pedro Cacau escondeu-se em cima de um pé de jaca para ver a movimentação antes de agir, e qual não foi sua surpresa! Era o danado do Cecílio, o tal fantasma!
Não fez nada naquela noite e resolveu dar o troco. Voltou na sexta-feira seguinte, preparado. Ficou atrás de uma pedra grande na encruzilhada, e quando o Cecílio, no mesmo bat-local e no mesmo bat-horário, apareceu dizendo:
“ — Eu sou o menino da cruzinha!”
Pedro Cacau apareceu detrás da pedra com um lençol branco ainda maior dizendo com uma voz mais tenebrosa ainda:
— Não! O menino da Cruzinha sou eu, seu cabra safado!!!!
Cecílio ficou tão apavorado que fugiu em disparada assustado e até hoje nunca mais passou no local!
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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "Rio do Braço" (Romance Histórico) de Osman Matos, publicado em 2015 pela Editora Mídia Joáo Pessoa, PB (LANÇADO EM 2016 NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS) e pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso, 2017.