Pau de sebo

As festas de São Sebastião em 20 de janeiro e as de São José em 19 de março eram aguardadas por todos. Nessas festas, além da missa tradicional e procissão, tinham as corridas de saco, corridas de ovo na colher e quebra-pote.

O parque de diversões e o circo vinham de Ilhéus e cidades circunvizinhas para abrilhantar as festas. O pau de sebo era um tronco de madeira roliço com mais de sete metros, embebido de sebo de carneiro, sebo de porco e óleos, para ficar bem escorregadio. No topo, tinha os prêmios: cachaças, refrigerantes, cerveja, notas de 10,00 , 50,00 e até 100,00 cruzeiros, Kitut Wilson, Leite Moça, Goiabada Peixe, Doce de Leite em pote, geleia de cacau, mel de abelha natural, queijo coalho, sardinhas 88, pacotes de balas e pirulitos...

Quem chegasse até o topo era o dono de tudo. Havia vários candidatos e a torcida acirrada. Quando chegavam na metade do pau de sebo, desciam exaustos! Ninguém conseguia subir. Até que o Rubens Strite, o Roflectário chamado, magrelo e alto, caixeiro da Loja Casa Nilza, chegou até o topo sem camisa; subiu só de calção e com um bocapio para armazenar os produtos do pau de sebo.

Um ano depois do feito, Rubens Strite, o Roflectário, falando do assunto com Cecílio, confessou ter espalhado cinzas de cigarro por todo o peito e barriga e por isso não escorregou. Ninguém descobriu a trapaça até hoje, pois Cecílio era um cara sério e que guardava segredo. Ele parecia conhecer as três peneiras de Sócrates: só falava algo se fosse “VERDADEIRO”, se fosse “NECESSÁRIO” contar, e se fosse “BOM” para a comunidade. Nesse caso, só o primeiro critério passou pela peneira.

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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "Rio do Braço" (Romance Histórico) de Osman Matos, publicado em 2015 pela Editora Mídia Joáo Pessoa, PB (LANÇADO EM 2016 NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS) e pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso, 2017.