O "POBREMA" DA SINHÁ ROSINHA
 


     Meu cumpadi Zé, vá simbora! A sinhá Rosinha tá cum pobrema. Não entra nesse quarto não! Eita! Dei uma boa oiada, ligêro que nem curisco, e te digo, preto véio, aquilo lá é o Capeta. É sim! É coisa do cão! O rabo avermeiado em ponta di seta e os zóio di fogo não me engana não, visse? É o mardito Capiroto que deu di cismá, não sei pruquê, di se aboletá embaixo da cama di sinhá Rosinha. Eita chifrudo dos inferno!


     Rapaiz, faiz trêis dia que a pobre não comi, não bebi e não pode saí di arriba do leito. Si ela inventá di si mexê, um pouquinho só, cruz credo, a cama si saculéja toda. O Bode Preto solta um rosnado feio que instremece inté a alma da genti. É o que te digo: vá simbora!


     Olha só o que se assucedeu com o padi Vardumiro. Pois é, o abestado não botô fé nas minhas palavra, visse? Eu disse pra ele: tome tento, padi, pruquê o Malacabado é muito forte pra vosmecê. Mas qual o quê? Ahã, o canônico me disse poucas e boas e si arrotô todo dizendo que ia enxotá o disgramado di lá dibaixo na força da água benta.


     Sim, é isso mesmo, o padi Vardomiro ia fazê um tar di exorci... exorci... um espantamento aí, que não me acode o nome agora. Padi abestado! Um poço di educação! Eu avisei, num sabe? Pois foi dito e feito e tá lá ó, o teimoso birrento com a metade do corpo enfiado dibaixo da cama, numa sangrera desembestada, só com as perna di fora, o desenfeliz.


     Arre égua, cumpadi! Sinhá Rosinha, que Deus tenha piedade, é uma viva condenada. Tá morta! Zé, meu preto véio, ela já tá morta. Assim que a pobre botá um dos pisante no chão... hum... É vapt-vupt! Adeus Sinhá Rosinha!


 



 

Affonso Luiz Pereira
Enviado por Affonso Luiz Pereira em 01/09/2020
Reeditado em 27/03/2022
Código do texto: T7051596
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